O Senhor Presidente da República afirmou: "400 casos de abusos sexuais na Igreja não me parece um número particularmente elevado".
Palavras infelizes e desnecessárias do Senhor Presidente da República, de quem os portugueses esperam declarações e comentários cuidadosos e ponderados, já que ocupa o mais alto cargo da Nação.
No que diz respeito aos abusos sexuais da Igreja, um caso que fosse, já seria embaraçoso e um péssimo exemplo. Porém, na verdade, os abusos sexuais na Igreja com menores (pedofilia), ao longo do tempo, vão muito para além das quatro centenas agora denunciadas.
O Senhor Presidente da República devia saber que são muitos milhares os abusos sexuais com menores praticados pelo Clero, silenciados ao longo do tempo, pelo que tenho a certeza que ainda hoje, há vítimas com 50, 60, 70, 80 e até 90 anos que sofreram esses abusos mas que, simplesmente, não querem falar, para não reabrir feridas que, em muitos casos, ainda não foram totalmente saradas.
Quem é que antes de 25 de Abril de 1974 se atrevia a denunciar um membro do Clero de abusos sexuais? Perante o poder da Igreja na época, era difícil alguém fazer tais denúncias porque seria imediatamente excomungado, desacreditado e "queimado" na praça pública.
O Senhor Presidente da República, pelo facto de ser católico, não deve defender a Igreja, a qual merece ser penalisada e censurada pelos maus exemplos que tem dado aos seus seguidores e ao mundo em geral. Prega uma coisa e faz outra completamente diferente.
Vale mais tarde do que nunca. Ainda bem que a Igreja está, finalmente, a ser confrontada pela justiça, porque os abusadores gozaram de uma impunidade chocante dessa mesma justiça ao longo do tempo e também do encobrimento da própria cúpula da Igreja, também ela cúmplice dos horrores praticados pelos seus membros.
Estas declarações do Senhor Presidente da República são absolutamente descabidas, desnecessárias e incompreensíveis, de tal forma que são merecidas todas as inúmeras críticas que lhe têm sido feitas na imprensa e nas redes sociais.
Perdeu uma óptima oportunidade de ficar calado.