domingo, 14 de novembro de 2010

É PRECISO UM VERDADEIRO ESPÍRITO DE NATAL


A quadra natalícia é para mim um dos períodos mais difíceis do ano. Não suporto tanto consumismo, tanto desperdício, tanta fraternidade, tanta simpatia ocasional e tanta solidariedade fingida. É tudo contrário ao ESPÍRITO DE NATAL.

No Natal comemora-se o nascimento do Menino Jesus que ocorreu há dois milénios, em condições de extrema pobreza, num estábulo para animais, na cidade de Belém, transmitindo à humanidade, através desse gesto ímpar, uma infinita humildade e total desprendimento.

Para se comemorar convenientemente uma tão grandiosa efeméride, os pobres e os mais desprotegidos, tinham que ser, obrigatoriamente, o centro de todas as atenções. Todas as boas-vontades tinham que ser canalizadas para os que não têm tecto, para os enfermos e para todos quantos vivem diariamente o drama da incerteza de não poderem garantir uma simples tigela de sopa para matar a fome.

Infelizmente, o Natal é um errado pretexto para os ricos e os menos ricos gastarem grandes somas de dinheiro em prendas supérfluas, para si próprios e para pessoas que não precisam, constituindo tal prática, uma verdadeira afronta aos que têm falta de tudo.

Acredito que a pobreza poderia ser totalmente erradicada do Mundo, se em cada Natal, as pessoas fossem capazes de resistir à tentação de comprar artigos supérfluos e canalizassem todo o dinheiro poupado para ajudar os mais pobres.

Em todo o Mundo, se esse extraordinário ESPÍRITO DE NATAL funcionasse, seria possível acumular recursos tão gigantescos que certamente chegariam para erradicar a fome e a extrema pobreza que grassa no Planeta Terra.

Mas será o homem capaz de algum dia praticar acto tão magnânimo e sublime? Será o homem capaz de renunciar à altivez, ostentação e exibicionismo que lhe corre nas veias, para ajudar os mais desfavorecidos?

Para tal acontecer, o Ser Humano tem que evoluir rapidamente no caminho do BEM, de tal forma que sinta absoluta necessidade de percorrer esse caminho para se sentir bem e para ser feliz.

Quando isso acontecer, quando todos os homens praticarem o BEM, então o ESPÍRITO DE NATAL funcionará em pleno, durante todo o ano e a fome será definitivamente erradicada do Planeta Terra.

sábado, 13 de novembro de 2010

LUCIDEZ EM VEZ DE CEGUEIRA POLÍTICA


O lúcido e competentíssimo Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo de José Sócrates, em diversas ocasiões manifestou a sua discordância relativamente à governação, nomeadamente quanto a algumas das grandes obras e agora quanto à existência de um Governo minoritário.
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Tem demonstrado ideias próprias e tem-nas manifestado, mesmo sabendo que causam incómodo porque são contrárias à linha de rumo do Governo. A sua "independência" política relativamente ao Governo e ao Partido, contrasta com a do Primeiro Ministro e permite-lhe ver que este Executivo minoritário não tem capacidade de enfrentar a crise e que é necessária uma coligação que garanta estabilidade e o cumprimento integral do Orçamento de Estado.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros tem-se recusado a assumir um papel de mero "seguidor" do Chefe, tem procurado exercer influência positiva nas decisões do Executivo e, acima de tudo, tem demonstrado, com os seus actos e atitudes, que coloca acima de tudo, os superiores interesses do País, coisa raríssima, neste pequeno rectângulo à beira-mar plantado.

Luis Amado, é daqueles homens que não confunde interesses pessoais com interesses do Partido e interesses nacionais. Coloca cada coisa no seu devido lugar, sem misturas ou promiscuidades.

Neste País, é muito difícil existir algum político sem rabos de palha. Não pesquisei a vida do Ministro dos Negócios Estrangeiros e pouco sei do seu passado mas que me parece um homem com forte personalidade e uma formação ética e moral fora do vulgar, isso eu não tenho dúvidas.

Agora, e mais uma vez, Luis Amado, igual a si próprio, sem receio de represálias, despindo a camisola partidária, vem dizer em entrevista ao Expresso, com toda a frontalidade e patriotismo, que na difícil conjuntura económica que Portugal atravessa, não faz sentido a existência de um Governo minoritário e que é preciso urgentemente um Governo de coligação, manifestando-se disponível para abdicar do cargo governamental em nome da estabilidade.

E o Ministro dos Negócios Estrangeiros, na mesma entrevista ao Expresso, fez ainda questão de acrescentar: "Eu já tentei fazer isso logo no início do Governo, propondo um diálogo e uma forma de entendimento, quer através de coligações, quer através de acordos parlamentares, mas, infelizmente, o País bem sabe que de todos os outros partidos, nenhum deles está disponível para partilhar responsabilidades com o partido socialista no Governo".

O que este País efectivamente necessita para sair da crise, é de homens com a visão e a lucidez do Ministro dos Negócios Estrangeiros que sendo socialista e membro destacado do Governo, não se coibe de apontar soluções para os graves problemas do País que são contrárias à vontade do Executivo e da Direcção do Partido.
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A credibilização da política também só será possível com gestos lúcidos e de grande nobreza de carácter, comparáveis aos do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luis Amado.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

MEU DEUS, QUANTA CRUELDADE!!!




Hoje, quando me encaminhava para as instalações da Colectividade de que sou Presidente da Direcção, deparei com um grupo de cinco indivíduos junto à entrada de uma garagem emparedada que posicionados em círculo e de pé, gargalhavam e proferiam um chorrilho de obscenidades.

Perante aquele bizarro quadro, nenhum transeunte ficaria indiferente e eu também não fiquei. De uma forma simplista, associei aquele comportamento a alguém que estaria sob o efeito de qualquer tipo de droga e provavelmente não me enganei.

O que eu jamais poderia imaginar, era que os indivíduos pudessem estar a cometer uma tão grande crueldade com uma ave inofensiva e indefesa. O que aqueles jovens, com idades entre os 15/17 anos, estavam a fazer, não dá para acreditar. Enquanto um agarrava um pombo pela cabeça, um outro queimava-lhe as penas com a ajuda de um isqueiro. E era com este espectáculo macabro e cruel que aquele conjunto de indivíduos, sem coração e sem pingo de vergonha, despejava a sua maldade e se divertia.

Quem pratica uma acção desta natureza contra uma ave inofensiva e indefesa, é bem capaz de fazer o mesmo a uma pessoa ou a qualquer outro animal.

Este conjunto de inconscientes, provavelmente também pertence ao grupo que parte os vidros dos abrigos das paragens dos autocarros, que incendeia os contentores do lixo, que viola as caixas do correio, que corta árvores, que suja os prédios, que utiliza táxis e depois sova e assalta os motoristas, que encomenda pisas para moradas que não lhes pertencem e depois rouba e agride o pobre do empregado, que assalta velhinhos indefesos e tantas outros crimes que diariamente vitimam tantos cidadãos inocentes e indefesos.

Meu Deus! Por onde andam os valores que meus pais e avós me transmitiram e que eu procurei também incutir nos meus filhos e netos? Será que já ninguém, nos dias de hoje, tem capacidade para distinguir o bem do mal? Será que o mal está, irremediavelmente, a levar a melhor sobre o bem?

Muitas destas coisas acontecem porque as autoridades não intervêm quando devem intervir e depois, este tipo de gente, porque goza de completa impunidade, sente que pode actuar quando, onde e como lhe apetecer. Não há justiça.

Assim, será muito difícil construir um País e um Mundo melhor.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

GUERRA JUNQUEIRO - INTEMPORAL



Haverá algum engano na data?


"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia de um coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não distinguindo já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.

Um Poder Legislativo, esfregão de cozinha do Executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A Justiça ao arbítreo da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no Parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar"

GUERRA JUNQUEIRO (1896)


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Incrível!!! Vejam como é extraordinariamente realista, nos nossos dias, esta fantástica prosa de Guerra Junqueiro, escrita no século XIX, há precisamente 114 anos!!!

Espantoso! Assim era há 114 anos e assim continua a ser, na actualidade, a miserável política portuguesa. Os homens já não são os mesmos mas as suas abomináveis práticas, os seus maus hábitos e costumes, esses mantêm-se inalteráveis, cada vez mais arraigados e sofisticados.

E o que dizia Junqueiro do Povo? Será que se ele vivesse hoje, não teria as mesmas razões para escrever o que escreveu?

Os homens não mudam e está provado que enquanto o Povo lhes der rédea solta, eles continuarão sempre atolados em esquemas de corrupção e práticas vergonhosas, delapidando a riqueza do País e tornando cada vez mais insuportável a existência das pessoas.

Os governantes precisam de rédea curta. É preciso uma intervenção mais activa do Povo. É preciso um órgão fiscalizador, composto por elementos do Povo (mas mesmo do verdadeiro Povo) e residentes em cada região do País, que tenha poder para tomar decisões e força de Lei para impedir o saque permanente do património da Nação.
Para Junqueiro, o povo tinha uma enorme quota parte de responsabilidade nos desmandos da classe política porque nada fazia para o impedir e hoje verifica-se precisamente a mesma coisa.
Até quando?