sábado, 27 de fevereiro de 2010

NÃO ADIANTA TENTAR TAPAR O SOL COM A PENEIRA



TANTA MENTIRA!...

Toda a vida constatei que uma criança não sabe mentir e quando o faz, qualquer adulto minimamente perspicaz lhe descobre imediatamente sinais evidentes da sua maquinação.

A sua inocência e pureza de princípios, faz com que não se sinta à vontade e, por isso mesmo, vacile perante quem pretende enganar.

Já os adultos pensam que são uns verdadeiros artistas, uns autênticos profissionais da mentira e que facilmente enganam as pessoas. Têm muito mais lata que as crianças e porque há muito perderam a tal inocência e pureza de princípios, conseguem faltar à verdade com toda a convicção e descaramento, adoptando aquele ar importante de virgens ofendidas e quase sempre, para impressionar, um semblante carregado, grave e sério,

Ultimamente, neste País, assistimos ao culto da mentira. Mente-se por tudo e por nada, por coisas graves e por ninharias, com o objectivo de à força de tanto insistir e repetir a mesma coisa, transformar uma mentira em verdade e uma verdade em mentira.

É escandaloso e caricato ouvir determinadas personalidades justificar o injustificável, tentando sacudir a água do capote e não se dando conta do papel ridículo que fazem ao tentar tapar o sol com a peneira. É de facto um exercício deprimente que a mim próprio me causa mal-estar e vergonha. É que essas pessoas não têm o capote salpicado de água mas completamente cheio de nódoas que jamais conseguirão remover, mesmo que se desfaçam de todas as peças de roupa, porque elas, as nódoas, ficarão para sempre a manchar o seu carácter.

Mentir tão descarada e despudoradamente aos cidadãos de um País, fazendo deles uma horda de mentecaptos, é de facto uma falta de ética confrangedora e um desrespeito e uma desconsideração sem limites que denota e acentua o estado deplorável a que chegou a honorabilidade de certas personalidades com responsabilidades importantes na governação do País e na administração das maiores empresas públicas e privadas.

O que realmente preocupa e indigna qualquer cidadão honrado deste País, é que os crimes são descobertos e confirmados mas os criminosos que os cometeram, quando se trata de determinadas figuras públicas, nunca são identificados e muito menos julgados e, por isso mesmo, como diz o povo, a culpa morre sempre solteira.
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Para actos tão graves, nos EUA já teria inevitavelmente acontecido um novo Watergate e por muito menos, em 1999, foi instaurado um processo de impugnação de mandato (Impeachment) ao então Presidente Bill Clinton, por ter mentido no caso Mónica Lewinsky.

Porém, em Portugal, as pessoas com obrigação de dar os melhores exemplos e zelar pelos interesses do País e dos cidadãos, quando são apontadas como suspeitas de cometer as mais diversas e graves infracções que mancham a democracia e lesam gravemente o património do Estado, chamadas a explicar, negam tudo, atabalhoada e esfarrapadamente e fazem um esforço quase titânico para arquitectarem as mais hilariantes desculpas e alibis que, como no caso das crianças, qualquer adulto minimamente experiente, perspicaz e isento, descobre imediatamente nessas explicações e desmentidos, embaraços e tiques comprometedores

Um povo atinge a sua maioridade quando é capaz de pensar exclusivamente pela sua cabeça, agir com independência e afastar-se de fundamentalismos políticos doentios que lhe permitam avaliar com rigor e isenção os actos criminosos praticados por todas as figuras públicas conotadas com as diferentes forças políticas e ter a coragem de as denunciar.

Quando isso acontecer, estaremos na presença de um povo adulto e maduro que em nenhuma circunstância permitirá que no seu seio se acoite esta espécie de gente mentirosa e que à sua custa construa carreiras de sucesso, principescamente remuneradas.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

TRAGÉDIA NA MADEIRA

As imagens que chegaram da Madeira, resultantes do violento temporal que se abateu sobre a Ilha, são trágicas e devastadoras e dão-nos uma ideia da dimensão da tragédia e do elevado grau de destruição.

Os prejuízos materiais somam muitos milhões de euros mas há também a lamentar a perda de vidas humanas. As autoridades regionais confirmam até ao momento 43 vítimas e mais de uma dúzia de desaparecidos.

A tarefa de reconstrução é gigantesca. É preciso reparar estradas, pontes e equipamentos diversos, mas é preciso também construir casas para quem viu as suas desmoronarem-se com a força das enxorradas de lama e pedra e ajudar todos aqueles que viram os seus comércios invadidos pela água e toneladas de detritos, bem como as Empresas e particulares que viram máquinas e viaturas arrastadas e soterradas ao longo do percurso.

A tragédia foi muito grande mas os gestos de solidariedade têm-se multiplicado a cada dia que passa, a nível nacional e internacional, ficando demonstrado mais uma vez que as pessoas, nos momentos difíceis, são solidárias e generosas.

Oxalá que todas as contribuições sejam canalizadas para aqueles que efectivamente foram vítimas da tragédia e que não venham a acontecer vergonhosos oportunismos como aqueles que já tivemos ocasião de constatar noutros acontecimentos também trágicos.

Que os dinheiros sejam aproveitados para reconstruir e reconstruir bem, mas também para ressarcir aqueles que ficaram sem os seus bens e, muito pior do que isso, sem os seus entes queridos.

Força Madeira! Coragem Madeirenses!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

APROXIMA-SE NOVA ERA PARA O PPD/PSD


Até ao final do próximo mês de Março, a sucessão na liderança do PSD vai ficar solucionada, com a realização do Congresso nos dias 13 e 14 e logo de seguida as directas no dia 26.

Para já, são três os candidatos que se propõem ocupar o lugar de Manuela Ferreira Leite: Passos Coelho, Paulo Rangel e Aguiar Branco. Dos três, o que tem suscitado mais críticas dos opositores, em especial do Partido do Governo, tem sido Rangel, ao qual têm sido desferidos fortes ataques.

Esta actuação, tem para mim uma óbvia leitura, concerteza também partilhada por muitos outros portugueses: das três candidaturas, é aquela que mais temem e por isso lhe reservam todo esse tempo de antena para o atacarem.

Toda a vida ouvi dizer que aqueles que são constantemente objecto de críticas e difamações, são normalmente pessoas temidas e com valor e concerteza, neste caso, também será esse o caso.

De facto, Rangel parece-me um bom tribuno e demonstrou-o na qualidade de líder da bancada Social Democrata, quando sucedeu a Pedro Santana Lopes, na anterior legislatura. Foi o único deputado da oposição que em alguns debates na Assembleia da República, conseguiu contrariar e até ofuscar as intervenções do Primeiro-Ministro.

Até parece que as forças políticas que o atacam, pretendem indicar o líder que melhor lhes convém para liderar o PSD, na esperança de poderem continuar a contar com um Partido fraco, sem capacidade para arrumar a casa e muito menos para se impôr a nível nacional, pronto a assumir a governação do País.

Pois eu acho que a oposição, com tal atitude, está a dar um forte empurrão ao candidato Paulo Rangel, já que os militantes sociais democratas pretendem um líder combativo, de fácil argumentação, capaz de ganhar os próximos confrontos políticos ao actual Primeiro-Ministro, o que até agora ninguém fez e depois, com essa preciosa vantagem, partir à conquista de uma maioria que lhe permita governar o País.

Ao contrário de muitos, eu penso que o Congresso vai ser benéfico para o PPD/PSD, desde logo, para discutir alguns assuntos internos e arrumar a casa mas também para dar oportunidade aos três candidatos de apresentarem as suas credenciais aos delegados presentes, aproveitando a oportunidade para mostrarem quanto valem, já que eu não tenho dúvidas que ganhará as directas, o candidato que melhor prestação conseguir no Congresso. Ou seja, em meu entender, do Congresso sairá já um candidato com uma forte aura vencedora, suficiente para convencer os militantes a atribuir-lhe o voto nas directas.

Quem vai ser? Não me atrevo a fazer prognósticos sobre o vencedor mas tenho o meu palpite. O que é verdadeiramente necessário, é que seja eleito o melhor dos candidatos e que o mesmo, tenha a capacidade, a arte e o engenho de congregar à sua volta todas as diferentes tendências do Partido, pois só dessa forma, todos a puxar para o mesmo lado, será possível ao PSD reocupar o lugar de relevo a que habituou os portugueses na cena política nacional e que nos últimos anos sofreu fortes abalos.

O País ganhará com um PSD em toda a sua plenitude mas também com todos as outras forças políticas no seu melhor.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

TUDO SE COMPRA E TUDO SE VENDE - UMA MÁ JOGADA DE LUIS FIGO


Este Governo não olha a meios para alcançar os seus fins e tudo "compra", até a honra de pessoas que tínhamos como íntegras e imunes à prática de actos merecedores de reprovação e censura.

Desta vez, está em causa o carácter e a imagem de um dos mais brilhantes jogadores portugueses de todos os tempos que tem vindo a desempenhar desde há largos anos, um importante papel na divulgação e prestígio de Portugal em todo o Mundo e que é referido na comunicação social como tendo "vendido" o seu apoio político ao Primeiro-Ministro José Sócrates, nas últimas eleições legislativas.

Se se vierem a confirmar como verdadeiras as notícias que têm vindo a ser difundidas na imprensa e que constam da edição do Jornal SOL de sexta-feira, 19.02.2010, Luis Figo não é a pessoa que eu imaginava que fosse e embora admire imenso o seu passado glorioso de grande profissional de futebol que atingiu o patamar superior da sua carreira e ganhou tudo quanto havia para ganhar, não posso aceitar que tenha sido capaz de negociar o seu apoio a um partido político, envolvendo verbas escandalosas.

O apoio político dá-se, não se vende. É um dever cívico dos cidadãos de um País participar nos actos eleitorais e exercer gratuita e desprendidamente o seu direito de voto, de livre e expontânea vontade, das três formas possíveis: votar numa força política, votar em branco ou votar nulo.

Luis Figo, tanto quanto sei, é um homem de negócios bem sucedido que tem o seu futuro bem acautelado e não tinha necessidade de se deixar envolver nos esquemas mafiosos a que este Governo nos habituou e que de certa forma, caso se venham a confirmar, mancharão a sua imagem como atleta e como homem.

Em política, neste País, já percebi que vale tudo e, como tal, o actual Governo não tem qualquer pudor em utilizar os dinheiros públicos, o dinheiro de todos os contribuintes, em proveito próprio, para "comprar" o voto de ilustres figuras públicas.

Sinceramente, já são desvarios a mais praticados por um só personagem. É a credibilidade do País e dos portugueses que está em causa e, por isso mesmo, alguém tem que encontrar uma solução para este Governo.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

QUEM SEMEIA VENTOS COLHE TEMPESTADES


José Eduardo Moniz, o ex-Director-Geral da TVI, foi uma das vítimas de Sócrates e, nesse sentido, depois de tomar conhecimento das notícias vindas a público no SOL, sobre o plano para manietar e controlar a comunicação social, escreve hoje no Correio da manhã, aquilo que pensa sobre a actuação do Primeiro-Ministro e diga-se, em abono da verdade que não é nada meigo.

Porque há de facto, neste momento, uma multidão imensa de portugueses que reprovam o comportamento do Primeiro-Ministro e pensam exactamente como o ex-Director-Geral da TVI, não posso perder a oportunidade de publicar o artigo no meu blogue, fazendo também minhas as suas palavras. Eis o seu artigo:


Avaliação Contínua
Sem olhos vendados...

'Vergonha.’ É a primeira palavra que me ocorre para descrever o estado do País. Sobretudo depois de, ontem, ver confirmado, através da divulgação de escutas do caso ‘Face Oculta’, o entendimento que o primeiro-ministro tem da liberdade da Informação e também das liberdades individuais. O que o ‘Sol’ descreve sobre a operação para manietar e controlar a Comunicação Social revela o inacreditável desrespeito do homem que há anos governa Portugal por aquilo que são princípios elementares da democracia. Não olha a meios para atingir fins e não hesita em mentir se necessário.
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O processo relacionado com a TVI tem contornos kafkianos. Se a intervenção de Armando Vara não se estranha, o papel a que a PT se prestou, com o envolvimento activo de um seu administrador, homem de mão do primeiro-ministro, e a cumplicidade do próprio Zeinal Bava, é inadmissível. Estamos perante um polvo que se mexe conforme os propósitos cegos de um homem que quer a qualquer custo agarrar o Poder. Por razões óbvias, relacionadas com os meus actuais compromissos profissionais, inibo-me de fazer considerações sobre aquilo que comigo ocorreu, embora eu seja o tal 'gajo' que era preciso 'limpar'. O que se passou contei à ERC, como era minha obrigação. Quanto ao fim do ‘Jornal Nacional’, confirma-se o que há tempos escrevi: é um escândalo resultante de deliberada acção de silenciamento que resultou de um conluio entre Governo e accionistas da empresa. Há, agora, que cobrar responsabilidades, sem olhos vendados nem ouvidos tapados. Fico à espera para ver o que a Entidade Reguladora irá fazer. Uma pessoa com as deficiências de carácter como as que José Sócrates já não consegue esconder não pode ser chefe de governo. Aqui ou em qualquer país minimamente civilizado. Se estivéssemos nos EUA, o primeiro-ministro e toda a sua ‘entourage’ há muito que teriam sido impiedosamente despedidos. A democracia americana possui mecanismos de autodefesa que não pactuam com situações deste tipo nem com gente assim, que acha possível fazer o que quer e lhe apetece com a vida dos cidadãos e das empresas. É bom que Cavaco Silva leia com atenção o que foi divulgado e que exija esclarecimentos. O Presidente da República não foi eleito para se tornar uma esfinge no universo da política portuguesa. Dele se espera que seja um garante de valores essenciais para a solidez da democracia, entre os quais a transparência e a lealdade. Não é de mais lembrar-lhe essas obrigações.
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Com o filme de suspense de baixa categoria e péssimos actores que o Governo faz com o caso da Lei das Finanças Regionais, e numa altura em que os nossos governantes tanto falam da necessidade de credibilidade perante o exterior, mais a situação se agrava, sendo conveniente não se esquecer que, embora o País se assemelhe actualmente a um cinema decadente, convém evitar a sua derrocada.

O TITANIC


O Senhor Primeiro-Ministro tem vindo a trilhar caminhos perigosíssimos com a sua obsessão desmedida de querer "eliminar" todos quantos critiquem a sua acção governativa que só têm trazido maus resultados para o País.

Na verdade, a situação económica portuguesa tem piorado de dia para dia, enfrentando o maior déficit de que há memória, de tal modo que o mesmo exige medidas dolorosas urgentes de contenção e diminuição, sob pena de colocar em causa a independência nacional e a ingovernabilidade do País.

Na falta de uma acção governativa forte e credível, a bolsa de Lisboa tem vindo a desvalorizar desde o princípio do ano mas só na última semana perdeu qualquer coisa como 4,6 mil milhões de euros, fruto da debandada de milhares de investidores estrangeiros que não acreditam na redução do déficit e na retoma da economia.

Mas porquê esta doentia obsessão do Primeiro-Ministro de usar o poder para silenciar os que denunciam os seus obscuros planos, em vez de se preocupar com a governação do País e em garantir emprego e bem-estar aos portugueses?


Não é suposto que haja em democracia formas de pensar e agir divergentes? Pluralidade de pensamento?

Oh Senhor Primeiro-Ministro, censurar é feio e não é admissível num regime democrático. Se não quer ser alvo de críticas, deixe de praticar actos indignos de um Primeiro-Ministro e assuma com honra e dignidade o alto cargo que desempenha e verá que a comunicação social e os portugueses, em geral, deixarão de ter motivos para o criticar.

Como é possível manter o barco da governação a navegar, livre de perigos, se o seu Comandante está constantemente fora do leme? Se anda constantemente ocupado com assuntos que não interessam a Portugal nem aos Portugueses?

Como é possível que o Primeiro-Ministro possa tratar dos verdadeiros problemas do País, se passa grande parte do seu tempo atarefado e enredado a fazer desmentidos, a dizer que não disse, a dizer que não fez, a dizer que não tinha conhecimento, a dizer que é mentira, a dizer que é uma campanha negra contra si, que é uma cabala para o destruir, a dizer... enfim... tudo quanto lhe vem à cabeça para tentar sacudir a água do capote.

Nas últimas eleições, não foi sério para com os seus concidadãos e não foi capaz de lhes dizer a verdade sobre a grave situação do País. A verdade, crua e nua, está agora a saber-se, dia após dia, aos bochechos, através da tal comunicação social que não alinha em planos de silenciamento e o que se lê e ouve relativamente à economia do País e aos mais absurdos e obscuros planos contra a liberdade de imprensa, é absolutamente tenebroso.

Mas o que mais me espanta no meio de todo este desvario é que não haja ninguém na estrutura socialista nem na composição governativa que seja capaz de se demarcar de todas estas graves trapalhadas e fazer ver ao seu líder que com este tipo de actuação, está a arruinar a economia e a tornar cada vez mais difícil a vida dos portugueses, a descredibilizar o País, interna e externamente, a manchar a democracia e a minar irremediavelmente a própria estrutura do Partido Socialista que vai sofrer grave revés em próximos actos eleitorais.

Desgraçadamente, o Governo e o Partido Socialista estão a fazer o papel da orquestra do navio TITANIC que continuou serena e tranquilamente a tocar enquanto o navio se afundava.



sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

PLANO TVI REVELADO NO PROCº "FACE OCULTA"


Muito se tem falado do processo "face oculta" e das conversas escutadas entre o Primeiro-Ministro e o então administrador do BCP e seu amigo de longa data, Armando Vara.

O Juiz instrutor do processo "face oculta" mandou extrair certidões das escutas feitas ao Primeiro-Ministro e ao ex-Ministro Armando Vara por entender que haveria fortes indícios de crime contra o Estado de Direito.

Essas certidões foram desvalorizadas pelo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e pelo Procurador-Geral da República que ordenaram a sua destruição.

O Facto é que o assunto não foi encerrado e hoje o SOL publica um artigo da autoria de Ana Paula Azevedo e Felícia Cabrita que vem acrescentar mais alguns esclarecimentos a todos quantos, como eu, desejavam saber mais sobre o assunto e, acima de tudo, tirar a limpo se o Juiz de Aveiro teria agido em consciência ou apenas por qualquer questão de vingança ou má fé.

O Povo é suficientemente inteligente e ao ler este artigo e outros esclarecimentos sobre a mesma matéria, saberá tirar as melhores ilacções acerca desta polémica que envolve mais uma vez o Primeiro-Ministro, tanto mais que um dos assuntos tratados nas referidas conversas já foi efectivamente "resolvido" como todos se lembram: José Eduardo Moniz já não é Director da TVI e Manuela Moura Guedes e o seu Jornal Nacional também já não fazem parte da grelha de programas da Estação.


Eis o artigo do Jornal SOL:

Face Oculta
O ‘plano’ de Sócrates à beira das eleições
Por Ana Paula Azevedo e Felícia Cabrita
O SOL revela os despachos dos investigadores do ‘Face Oculta’, em que estes defenderam um inquérito ao mais alto nível: estava em curso um ‘plano’, com o primeiro-ministro à cabeça, para controlar a TVI e outros media.


A explicação surge de forma simples e sem margem para dúvidas: surgiram «indícios muito fortes da existência de um plano em que está directamente envolvido o Governo, nomeadamente o senhor primeiro-ministro» , visando «a interferência no sector da comunicação social e afastamento de jornalistas incómodos». Isto a três meses das eleições legislativas e com «prejuízo» para a PT.
Os órgãos e as pessoas visadas nesse «plano» eram, em primeiro lugar, a TVI, José Eduardo Moniz e Manuela Moura Guedes. Mas mais: «resultam ainda fortes indícios de que as pessoas envolvidas no plano tentaram condicionar a actuação do Senhor Presidente da República».
Estas são as palavras usadas pelo procurador da República e pelo juiz de instrução do processo ‘Face Oculta’ para fundamentar os despachos que deram, em final de Junho do ano passado, mandando extrair certidões para que fosse instaurado um inquérito autónomo ao referido «plano», que consideravam consubstanciar um crime de «atentado contra o Estado de Direito».
São estes despachos – até agora desconhecidos, do procurador João Marques Vidal e do juiz de instrução António Gomes – que o SOL revela e publica nesta edição. A sua leitura integral, bem como das principais escutas telefónicas que os suportam, permite perceber as razões por que dois magistrados consideraram que devia ser instaurado um inquérito que visaria directamente o primeiro-ministro e vários gestores da área do PS, alguns já arguidos no ‘Face Oculta’.
O aviso da PJ
O primeiro alerta foi dado no dia 12 de Junho por Teófilo Santiago, director da Polícia Judiciária de Aveiro e coordenador no terreno das investigações do ‘Face Oculta’. Entre as vigilâncias e escutas telefónicas montadas aos arguidos Armando Vara e Paulo Penedos – suspeitos, juntamente com altos quadros de grandes empresas públicas, de colaborar nos crimes de corrupção e tráfico de influências que permitiram ao empresário de Ovar, Manuel Godinho, ganhar uma série de concursos na área dos resíduos industriais – tinham surgido «situações» que lhe suscitavam «sérias dúvidas quanto à sua legalidade».
Em causa estavam as conversas de Paulo Penedos, dirigente do PS e assessor da PT, e de Armando Vara, antigo dirigente socialista e então vice-presidente do BCP. O primeiro falava com o administrador executivo Rui Pedro Soares – seu superior hierárquico e que no dia 3 de Junho fora a Madrid num avião a jacto, falar com a Prisa, proprietária da TVI – e outros altos quadros da empresa. Vara falava com empresários e com o primeiro-ministro, José Sócrates. Percebia-se que havia já um «negócio» com contornos definidos, de aquisição de parte da TVI pela PT, de uma forma encapotada.
No dia 23 de Junho, o procurador Marques Vidal mandou extrair certidão para se abrir um inquérito a estes factos. E justificou: há «fortes indícios da existência de um plano em que está directamente envolvido o Governo para interferência no sector da comunicação social visando o afastamento de jornalistas incómodos e o controlo dos meios de comunicação social». Um plano que se «concretizaria através de uma rede instalada nas grandes empresas e no sistema bancário» e que recorria até «a prestação de informações falsas às autoridades de supervisão».
O magistrado explicava ainda que a precipitação dos acontecimentos (o negócio iria ser assinado daí a dois dias) obrigava a avançar com urgência para a investigação. Para isso, pedia ao juiz de instrução que autorizasse a extracção de cópias das escutas, bem como dos relatórios policiais com os respectivos resumos. Nestas estavam incluídas as conversas de Vara com Sócrates.
O juiz, António Gomes, aceitou esta valoração das provas e disse mesmo que existiam «indícios muito fortes» – autorizando as cópias dos documentos e das escutas.
Estas duas certidões foram de imediato remetidas «em mão para superior apresentação», uma vez que o Ministério Público (MP) de Aveiro não tinha competência territorial para tal, além de estar em causa o primeiro-ministro. Seguiram-se, nos meses seguintes, mais seis certidões, que incluíam outras escutas telefónicas entretanto surgidas sobre o assunto e também documentos pedidos pelo procurador-geral da República (PGR), Pinto Monteiro. Daí se ter assistido ao que o presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), Noronha Nascimento, qualificou a certa altura como «certidões aos bochechos».
Contraste e mistério
Como se sabe, estas certidões foram apreciadas pelo PGR e por Noronha Nascimento, por estar em causa José Sócrates. Em Setembro e em Novembro, ambos consideraram não haver razão para instaurar um inquérito – um contraste muito grande com as argumentações do procurador e do juiz de Aveiro.
Pinto Monteiro, que nunca divulgou os seus despachos e respectiva fundamentação, anunciou em dois comunicados sucessivos (14 e 21 de Novembro passado) que «não existiam indícios probatórios» e que as matérias oriundas de Aveiro padeciam de «irrelevância criminal». Isto além de não poderem ser usadas como prova, pois só o presidente do STJ pode autorizar escutas que envolvam o primeiro-ministro. Noronha mandou destruir essas escutas e foi mais longe, num despacho divulgado em Dezembro: «O conteúdo [das escutas] em que interveio o primeiro-ministro, não revela qualquer facto, circunstância, conhecimento ou referência, susceptíveis de ser entendidos ou interceptados como indício ou sequer como sugestão de algum comportamento com valor para ser ponderado em dimensão de ilícito penal».
Além do contraste, existe um mistério sobre o que se terá passado ao nível do MP, que resultou na existência de decisões díspares. Como o PGR já revelou, houve reuniões «entre Maio e Junho», ao mais alto nível (Pinto Monteiro, João Marques Vidal e Braga Themido, procurador-distrital de Coimbra) só para discutir o ‘Face Oculta’.
felicia.cabrita@sol.pt e paula.azevedo@sol.pt

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A CENSURA EXISTE


Mário Crespo é um profissional frontal e competente que faz perguntas ousadas aos seus convidados e não tem medo de abordar os temas mais escaldantes da actualidade, mesmo que envolvam as personagens mais proeminentes da Nação.

É um jornalista ao meu jeito que leio e oiço sempre que posso e, por isso mesmo, há muitos anos que ganhou todo o meu respeito e consideração.

Quando hoje tomei conhecimento através da internet na edição online do Expresso que por decisão da Direcção do Jornal de Notícias não foi publicada a sua crónica "o fim da linha", pensei imediatamente nos últimos actos de censura levados a cabo na TVI e no Público mas também na RTP e questionei-me se este Jornal não estaria a obedecer a ordens recebidas, tal como aconteceu com a publicação do caso das escutas à Presidência da República.

Afinal, onde é que está a tão badalada independência da imprensa face ao poder político?

Sei que Mário Crespo é um Homem corajoso, sem medo, de antes quebrar que torcer e que coloca acima de tudo e de todos, o seu dever profissional mas depois dos saneamentos a que temos assistido, temo que Mário Crespo seja convidado a reformar-se antecipadamente, aos 57 anos de idade.

Ficarei curioso e atento ao desenrolar dos acontecimentos, tanto mais que Mário Crespo é um Homem de fortes convicções e não se deixa intimidar com estas "limpezas selectivas" de um Governo obstinado em silenciar quem ousa dizer a verdade, criticando a sua actuação.

Porque vivemos num País democrático onde a censura devia ter sido completamente banida, publico no meu Blogue o artigo do Expresso e a crónica de Mário Crespo que devia ter saído hoje no JN e por decisão da Direcção não foi publicada.

Mário Crespo deixa "JN" e publica crónica censurada
Rosa Pedroso Lima

A crónica do jornalista da SIC - "O Fim da Linha" - que não foi publicada hoje no "Jornal de Notícias" por decisão da direcção, sairá em livro já no próximo dia 11. A obra reúne mais de cem crónicas publicadas nos últimos dois anos por Mário Crespo e tem prefácio de Medina Carreira.

Mário Crespo reagiu de imediato à decisão da direcção do "Jornal de Notícias" de não publicar a sua última crónica, prevista para a edição de hoje do jornal.
Hoje mesmo, o jornalista e pivô da SIC recebeu a garantia de publicação - já no próximo dia 11 e lançado no Grémio Literário - de um livro, que terá um prefácio de Medina Carreira. onde a crónica censurada - "O Fim da Linha" - "surgirá à cabeça". Ainda hoje, seguirá uma queixa para a Entidade Reguladora para a Comunicação Social, onde o jornalista requer à ERC que averigue a ingerência governamental em matérias editoriais.
Com o título "O fim da linha", a crónica de Mário Crespo prevista para hoje no "JN" relatava um almoço mantido entre o primeiro-ministro e os ministros dos Assuntos Parlamentares e da Presidência com um "executivo da televisão", onde se apontava o jornalista da SIC e pivô do Jornal das Nove como "um problema" a resolver".

"Louco" e "profissionalmente impreparado"
No referido almoço, os governantes terão ainda considerado que Mário Crespo era "louco" e "profissionalmente impreparado". "Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre", comenta o jornalista na sua coluna de opinião.
Contactado pelo Expresso, Mário Crespo recusa revelar o nome do "executivo de televisão" presente no almoço, preferindo "salvaguardar a sua identidade, enquanto for possível". No entanto, garante o jornalista, o teor da conversa com José Sócrates, Jorge Lacão e Pedro Silva Pereira "foi confirmado pelo próprio" responsável televisivo, assim como por "duas outras pessoas presentes no restaurante e que ouviram a conversa".
De acordo com Mário Crespo, só "ontem à meia noite" foi informado, telefonicamente, pelo director do "JN", José Leite Pereira, de que a sua crónica habitual não seria publicada. "É um privilégio do director que não contesto, mas esclareci de imediato que não escreveria mais para o jornal", disse ao Expresso o jornalista da SIC.

Lição para os media

A cónica integral - que poderá ser lida em link que segue no final deste texto - foi hoje de manhã publicada no site do Instituto Sá Carneiro. Mário Crespo garante que "não sabia sequer que esse site existia" e diz desconhecer a forma como o texto lá foi parar. "Apenas enviei, como sempre o fiz, a crónica para as moradas electrónicas do 'JN'", acrescentou ao Expresso.
Para o jornalista a situação descrita no almoço entre governantes, assim como a recusa na publicação da crónica, é uma situação "grave" e "uma lição para os media em geral de que não é possível censurar".
Mário Crespo garante ainda que "nunca" tinha sofrido qualquer reparo por parte dos responsáveis editoriais do "JN" sobre o conteúdo das suas crónicas e que foi "surpreendido" pela decisão. No entanto, assume "sentia que estava numa zona de risco".

O Fim da Linha
Mário Crespo
Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa.

Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil ("um louco") a necessitar de ("ir para o manicómio"). Fui descrito como "um profissional impreparado". Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal.

Definiram-me como "um problema" que teria que ter "solução". Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o.

Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): "(...) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (...)". É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos.

Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados.

Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser "um problema" que exige "solução". Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre.

Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos "problemas" nos media como tinha em 2009.

O "problema" Manuela Moura Guedes desapareceu.

O problema José Eduardo Moniz foi "solucionado".

O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser "um problema".

Foi-se o "problema" que era o Director do Público.

Agora, que o "problema" Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais "um problema que tem que ser solucionado". Eu.

Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.

Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicado hoje (1/2/2010) na imprensa.