quarta-feira, 13 de agosto de 2025

OLÁ PAI

 


Olá pai, que Deus na sua imensa magnanimidade, te proporcione no Céu, a felicidade que nunca conseguiste alcançar na Terra.

Partiste sem termos tido uma oportunidade para uma última conversa de pai para filho, de homem para homem, sobre tantas coisas ruins que não deviam ter acontecido na tua vida mas especialmente em relação à tua mulher e aos teus filhos que a partir de certa altura abandonaste para te juntares a outra mulher que também era mãe de 3 ou 4 filhos.

Pai, a mãe não merecia que a tivesses abandonado e a obrigasses a carregar o peso e a responsabilidade de tomar conta de seis filhos, todos menores. A mulher que abandonaste e maltrataste enquanto viveste com ela, foi-te sempre fiel e salvou-te a vida quando os familiares da mulher com quem casaste te sovaram e iam matando. Mesmo sendo traída, a mãe cuidou de ti e procurou a assistência necessária para te salvar a vida e evitar que ficasses inutilizado para o resto da tua vida.

Meu Pai, como pudeste abandonar e trocar a tua mulher e os teus lindos filhos por uma outra mulher e por outros filhos, com quem passaste a conviver e a quem passaste a dar a ajuda e a assistência que devias dar aos teus? Como pudeste cometer tão grande traição à tua verdadeira Família, à tua Família de sangue? 

Meu Pai, abandonaste os teus maravilhosos filhos quando eles mais precisavam de ti. Precisavam do teu amor, do teu carinho, da tua presença e da tua ajuda na alimentação, na educação e em todas as outras necessidades próprias dos jovens.

Meu Pai, essa outra família serviu-se de ti e do teu dinheiro, fruto do teu trabalho e dos teus sacrifícios, para pagares férias, baptizados, casamentos e até para construírem uma imponente moradia em Castelo Branco. Essa família não te tinha amizade, essa família só queria o teu dinheiro. Até as poucas economias que tinhas depositadas no Banco te roubaram de forma fraudulenta, em conluio com o gerente e aproveitando a tua debilidade mental, devido ao facto de te privarem de tomar a medicação que o médico te prescreveu. Esse dinheiro, segundo me tinhas confidenciado, era para dividir pelos teus filhos e essa gente nojenta, depois de tanto te explorar, não permitiu que tu realizasses esse teu desejo e, de certa maneira atenuasses a culpa que sentias por não teres sido um bom pai.

Meu Pai, sei que ficaste desesperado e cego de raiva quando descobriste que a conta estava a zeros e, naquele momento achaste que a tua vida não tinha mais sentido, acabando por teres posto termo à vida naquele poço tão perto da casa onde vivias. Creio que esse episódio inqualificável te fez chegar finalmente à conclusão que as pessoas que escolheste para tua família não eram tuas amigas e apenas queriam o teu dinheiro, algo para que eu, uns anos antes, já te tinha alertado. Lembras-te que te fui buscar a Castelo Branco para ficares comigo em Lisboa? E que durante uns meses te acompanhei às consultas de psiquiatria para tentarmos recuperar a tua saúde? 

Meu Pai, estavas bem melhor, tinhas recuperado daquela situação de grande debilidade mental e até já tinha sido aliviada a carga medicamentosa. Porém, lá em Castelo Branco, a mulher que apenas estava interessada no teu dinheiro e na tua reforma, não desistia de o conseguir e veio a Lisboa para te levar novamente. Pedi-te que não fosses mas tu acabaste por ir e, com essa tua decisão, assinaste a tua sentença de morte pois acabarias por pôr termo à vida pouco tempo depois, a 20 de Março de 1990, com 68 anos de idade.

Meu Pai, num último acto de descontentamento, indignação e raiva, impedi que o funeral se realizasse em Castelo Branco e tratei com as autoridades locais as formalidades legais para a tua transladação para o Cemitério do Lumiar em Lisboa, visto que, de forma nenhuma estava disposto a aceitar que aquela gentalha que tão mal te maltratou em vida pudesse, cinicamente, tratar do teu funeral e fingir a dor da tua perda.

Meu Pai, sei que morreste amargurado e arrependido por não teres feito mais pelos teus filhos. É a vida Pai. Cá se fazem, cá se pagam. Expiaste, com juros altos, cá na Terra, todos os teus pecados. Podias ter sido feliz junto da tua verdadeira Família mas escolheste outro caminho. Apesar disso, os teus filhos nunca te abandonaram e gostaram sempre de ti.

Meu Pai, também sei que Deus te perdoou todos os teus pecados porque Deus perdoa a todos os seus filhos que partem para o Seu Reino para poderem gozar a felicidade eterna; também da parte dos teus filhos, podes descansar em paz porque eles sempre gostaram de ti e te perdoaram.

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