sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

MEGALOMANIAS

Este pequeno País com cerca de 89.000 km2 de superfície, aproximadamente 560 km no seu maior comprimento e 214 km na sua maior largura, não tem necessidade de um projecto megalómano da dimensão do TGV.
A dimensão do País dispensa um projecto de custos tão elevados, uma vez que a sua utilização se destina a uma pequena percentagem da população e jamais, em nossas vidas, será capaz de recuperar o gigantesco investimento realizado.
Projectos megalómanos que não são acessíveis a todos os portugueses e não geram uma rentabilidade condizente com os seus custos, devem ser definitivamente banidos de um País onde se pedem sacrifícios aos contribuintes portugueses e à população em geral, há mais de três décadas; de um País que está na cauda da Europa em termos económicos; de um País onde os trabalhadores têm o mais baixo salário mínimo e as piores regalias sociais da CEE; de um País onde as desigualdades sociais são abismais entre o Portugal do Interior e o Portugal do Litoral.
Como explicar esta tendência obsessiva dos governantes para a realização de projectos megalómanos, num País de dimensão tão diminuta que depois não têm aproveitamento rentável (caso de alguns estádios de futebol), quando esses avultados investimentos deviam ser obrigatoriamente canalizados para a criação de condições dignas às populações do Interior, especialmente àquelas que tiveram a infeliz sina de nascer e viver nos lugares mais recônditos do País, onde não existem quaisquer condições para viver com um mínimo de dignidade.
Para esses, porque também são tão portugueses como os demais e pagam os seus impostos, é imperioso proporcionar-lhes melhores acessibilidades (por vezes é necessário percorrer dezenas de quilómetros para chegar a outra localidade que em linha recta fica mesmo ali ao lado), dotar os seus locais de residência de saneamento básico, luz eléctrica, telefone, transportes públicos e ajudá-los a recuperar as suas casas que na maior parte dos casos, não têm o mínimo de condições de habitabilidade. Isto é o mínimo que se exige de um Governo que esteja interessado em combater as desigualdades sociais pois todos sabemos que essas pessoas tão isoladas, terão sempre grande dificuldade no acesso à saúde, ao ensino (razão de tanto analfabetismo), ao sector dos Serviços e a tantas outras regalias existentes nos centros urbanos.
Para resolver os graves problemas de habitação nos grandes centros urbanos, foi criado o Plano Especial de Realojamento (PER). Porque não torná-lo extensivo, na sua vertente PER-Famílias, ao interior do País?
Essa gente megalómana que abunda no Governo da Nação, devia percorrer os caminhos e lugares do Interior do País, para se aperceber de quão desnecessária e ridícula é a aposta teimosa e cega no TGV, quando milhares de portugueses ainda vivem em locais onde nem sequer um automóvel tem acesso e aos quais falta quase tudo para poderem ser minimamente felizes.
As pessoas a que me refiro, também têm o direito de partilhar, em igualdade de circunstâncias com os restantes portugueses, de todos os benefícios, bem-estar e progresso que o País alcançou nos últimos 30 anos.
Senhores Governantes, deixem-se de megalomanias e canalizem as vossas preocupações para a criação de condições de bem-estar para todos os portugueses, não esquecendo, em primeiro lugar, aqueles que foram sucessivamente esquecidos e abandonados.

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