sábado, 13 de novembro de 2010

LUCIDEZ EM VEZ DE CEGUEIRA POLÍTICA


O lúcido e competentíssimo Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo de José Sócrates, em diversas ocasiões manifestou a sua discordância relativamente à governação, nomeadamente quanto a algumas das grandes obras e agora quanto à existência de um Governo minoritário.
.
Tem demonstrado ideias próprias e tem-nas manifestado, mesmo sabendo que causam incómodo porque são contrárias à linha de rumo do Governo. A sua "independência" política relativamente ao Governo e ao Partido, contrasta com a do Primeiro Ministro e permite-lhe ver que este Executivo minoritário não tem capacidade de enfrentar a crise e que é necessária uma coligação que garanta estabilidade e o cumprimento integral do Orçamento de Estado.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros tem-se recusado a assumir um papel de mero "seguidor" do Chefe, tem procurado exercer influência positiva nas decisões do Executivo e, acima de tudo, tem demonstrado, com os seus actos e atitudes, que coloca acima de tudo, os superiores interesses do País, coisa raríssima, neste pequeno rectângulo à beira-mar plantado.

Luis Amado, é daqueles homens que não confunde interesses pessoais com interesses do Partido e interesses nacionais. Coloca cada coisa no seu devido lugar, sem misturas ou promiscuidades.

Neste País, é muito difícil existir algum político sem rabos de palha. Não pesquisei a vida do Ministro dos Negócios Estrangeiros e pouco sei do seu passado mas que me parece um homem com forte personalidade e uma formação ética e moral fora do vulgar, isso eu não tenho dúvidas.

Agora, e mais uma vez, Luis Amado, igual a si próprio, sem receio de represálias, despindo a camisola partidária, vem dizer em entrevista ao Expresso, com toda a frontalidade e patriotismo, que na difícil conjuntura económica que Portugal atravessa, não faz sentido a existência de um Governo minoritário e que é preciso urgentemente um Governo de coligação, manifestando-se disponível para abdicar do cargo governamental em nome da estabilidade.

E o Ministro dos Negócios Estrangeiros, na mesma entrevista ao Expresso, fez ainda questão de acrescentar: "Eu já tentei fazer isso logo no início do Governo, propondo um diálogo e uma forma de entendimento, quer através de coligações, quer através de acordos parlamentares, mas, infelizmente, o País bem sabe que de todos os outros partidos, nenhum deles está disponível para partilhar responsabilidades com o partido socialista no Governo".

O que este País efectivamente necessita para sair da crise, é de homens com a visão e a lucidez do Ministro dos Negócios Estrangeiros que sendo socialista e membro destacado do Governo, não se coibe de apontar soluções para os graves problemas do País que são contrárias à vontade do Executivo e da Direcção do Partido.
.
A credibilização da política também só será possível com gestos lúcidos e de grande nobreza de carácter, comparáveis aos do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Luis Amado.

Sem comentários: