RUI CALAFATE, é um jornalista e comentador português dos mais isentos e acertivos nos comentários que faz. É, portanto, um comentador que expressa com total independência e libberdade de expressão aquilo que em seu entender é a forma mais justa e equilibrada de analizar actos e atitudes de outras personagens, ao contrário do que fazem a maioria dos jornalistas e comentadores da nossa praça.
O texto que a seguir publico, da sua autoria, é bem o exemplo desse comentador urbano e isento que se distingue dos seus pares por não alinhar na malhação e no bota abaixo de algumas figuras políticas, só porque não pertencem à sua linha ideológica.
Habituei-me a ouvi-lo com atenção e a respeitá-lo porque os seus comentários primam efectivamente pela isenção, mesmo quando está inserido num painel de comentadores em que todos são unânimes na descredibilização e no bota abaixo de certas figuras políticas.
Porque concordo com o texto a 100%, aqui o deixo para quem o quiser ler, não deixando de aproveitar o ensejo para endereçar os meus parabéns ao seu autor, sem dúvida um dos mais conceituados e brilhantes comentadores da actualidade.
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O que falta a Ventura.
Presidenciais são terreno para gladiadores e André Ventura veste a armadura de homem forte como tantos outros líderes da nova direita pelo mundo.
Desenganem-se os incautos muito ágeis a dardejar André Ventura na noite de domingo, num exercício doentio e pouco decente de vingança do politicamente correto, o líder do Chega está bem vivo e mais forte.
Foi apenas vítima do excesso de confiança de quem, em apenas seis anos, conseguiu levar um dito ‘partido de um homem só’ a segunda maior força política com 60 deputados. O seu desígnio de 30 câmaras a conquistar era muito optimista por dois motivos.
Em primeiro lugar, ainda não tem estrutura suficiente espalhada pelo território que lhe garantisse bons cabeças-de-lista, conhecidos e respeitados pelas comunidades, em 308 municípios. Depois, a Marca Chega não bastou para empurrar os seus deputados como ganhadores e futuros autarcas. André Ventura ainda teve a habiiidade de apelar ao voto útil da direita – nos concelhos em que o Chega podia bater PS e CDU – mas foi infrutífero o seu esforço.
Mas foi um mau resultado? Informo as hienas do politicamente correcto que não. Passou de zero câmaras e 18 vereadores em 2021 para 3 e 137 vereadores e ao todo obteve mais de 1900 mandatos na totalidade. Com isso ganha influência local, vai criar gabinetes, o que atrairá mais profissionais qualificados, e assim se cresce estruturalmente. Sem esquecer o futuro, pois o eleitorado jovem está profundamente fidelizado pelo líder e por Rita Matias nas redes sociais.
Um dia, quando aquela Anita do Bloco de Esquerda ganhou a câmara de Salvaterra de Magos (saindo depois por indecente e má figura), aqueles que agora tentaram apedrejar André Ventura quase que a ungiram a nova Santa da Ladeira, entretanto, nunca mais o BE venceu nada nas autárquicas. Portanto, desiludam-se o Chega está a iniciar o seu caminho e também aqui irá crescer.
É importante realçar que André Ventura tem qualidades excelentes para a política atual. É um orador temível e que sabe tocar as teclas fulcrais que o país real sente. Acompanha e domina por completo as novas técnicas de comunicação, onde no TikTok é mestre. Sem perder a essência: a televisão ainda é o suporte vital da política e aí é um bulldozer de audiências. O único líder partidário que arrasta espetadores e garante ‘shares’ providenciais a todas as antenas.
O que falta então a Ventura? Ser mais frio e cínico e menos emocional. Ser mais obstinado no rumo sem se deixar afetar pela espuma dos dias da arena mediática. Precisa de atrair melhores quadros académicos e da sociedade civil, semear e trazer para a decisão mais juventude e pensar estratégia a longo prazo. Por exemplo, escolher alguém que comece a preparar as coisas para ganhar 30 câmaras em 2029, uma espécie de secretário-geral que olhe para dentro enquanto ele marca o ritmo para fora.
É certo que o próprio sempre afirmou que as eleições mais difíceis para o partido são as autárquicas, contudo, cresceu. Não como ambicionava, mas passou a molhar o bico no poder autárquico. Agora vem uma eleição mais a seu gosto. Presidenciais são terreno para gladiadores e ele veste a armadura de homem forte como tantos outros líderes da nova direita pelo mundo. Tem todas as condições para garantir a passagem à segunda volta, sabendo de antemão que posteriormente não chegará a Belém. Mas se passar à segunda volta, nesse dia, o gozo total com o politicamente correto será dele.
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