quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

BASTA UM NEVÃO MAIS FORTE PARA PARAR O NORTE DO PAÍS



Nestes últimos dias, coincidentes com o início do Inverno, tenho assistido todos os dias à divulgação de notícias pela comunicação social que dão conta de estradas intransitáveis, no norte do País e centenas de automobilistas retidos nelas durante quatro, seis, oito e dez horas e muitos, conhecedores da situação, já nem saem de casa, para não lhes acontecer a mesma coisa.

Não há meios disponíveis (limpa-neves) para fazer a limpeza das estradas em tempo útil. Em Portugal, um limpa-neves está atribuído a uma certa região, tendo a seu cargo uma série de troços, enquanto que no estrangeiro, é normal deparar com vários limpa-neves no mesmo troço, de x em x quilómetros.

Os automobilistas que regressam do estrangeiro, dizem que nos Países por onde passam também neva bastante mas as estradas são mantidas transitáveis; no entanto, ao chegar a território português deparam-se com um panorama desolador que os obriga a ficar retidos na estrada horas a fio, em condições difíceis, sem qualquer tipo de assistência.

Na Serra da Estrela, ao longo do Inverno, acontece a mesma coisa. Os serviços de limpeza da neve não conseguem manter abertas ao trânsito, umas poucas dezenas de quilómetros de estrada, impedindo os visitantes de desfrutar a beleza da paisagem.

Num pequeno País como Portugal com aproximadamente 560 km de comprimento e 214 de largura, não se compreende como é possível que não haja meios suficientes e capazes de manter constantemente abertas as principais vias de comunicação, sujeitando os seus utilizadores a problemas gravíssimos que bem podiam ser evitados.

Mas de facto, no Verão passa-se a mesma coisa pois também não há meios para combater os incêndios. A pouca floresta que existe é consumida pelas chamas, todos os anos e quem percorre o País, depara com grandes áreas, outrora cobertas de espessa floresta, agora completamente queimadas e no seu lugar, apenas o negro das queimadas e as pedras que o fogo não foi capaz de consumir.

Falar na realização de obras magalómanas onde vão ser gastos recursos astronómicos que o País não tem e que o vão endividar ainda mais quando há obras de primeiríssima necessidade que poderiam dar um pouco mais de bem-estar a tantos cidadãos, é uma indignidade e uma afronta a todas essas pessoas.

Falar em TGV quando existem tantos portugueses que ficariam felizes com a reactivação da linha Tua/Bragança e outros troços que foram prematuramente desactivados, é não dar valor e desprezar as gentes dessas regiões que também têm o direito de ser tratadas como qualquer outro cidadão que vive no Porto, Coimbra ou Lisboa, porque a sua vida é difícil e agravada com o peso da interioridade.

Porventura os governantes não têm consciência de que ainda existem lugares onde os seus habitantes não possuem água canalizada, electricidade, telefone, esgotos e estradas?

Que essas pessoas e essas regiões tenham sido esquecidas pelo antigo regime, porque era fascista, déspota, tirano e inimigo do povo..., ainda se tolera mas que elas continuem abandonadas e desprezadas, passados 35 anos, após a conquista da liberdade, da democracia e da igualdade, por aqueles que fizeram solenes e revolucionárias juras ao povo de acabar com essas injustiças, já não é aceitável nem tolerável.

Endividar o País e os portugueses para construir estruturas transfronteiriças (TGV) para facilitar a vida de um grupo restrito de portugueses e dos estrangeiros que nos visitam, sem proporcionar primeiramente aos cidadãos do Interior, o acesso ao TPV (Transporte de Pequena Velocidade), é um acto que revela o profundo desprezo dos governantes por essas gentes humildes e laboriosas, ao longo dos últimos 35 anos.

A atenção dos governantes devia focar-se nestas inacreditáveis e duras realidades e empenhar-se definitivamente na concretização dos sonhos (tão pequenos!) de tantos milhares de portugueses que tiveram a infelicidade de nascer e viver em lugares recônditos do interior que o Estado teima em maltratar.

Para se conhecer e dar valor aos problemas das pessoas, é necessário vivê-los e lidar com eles.

Aconselho o Governo a transferir-se por uns tempos para esses lugares recônditos e inóspitos, onde viver é cruel e desumano, para ver se depois continua a ter a mesma opinião e a mesma postura relativamente aos problemas que afectam aqueles portugueses e aquelas regiões.

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