quinta-feira, 21 de abril de 2011

"O PS DE SÓCRATES"


IMAGEM RETIRADA DO GOOGLE

Assisti à profusão de notícias informativas sobre o fantasmagórico congresso do Partido Socialista que a televisão pública e privada se encarregou de publicitar, vezes sem conta, como se a repetição exaustiva daquele fantasioso cenário, tivesse por objectivo fazer acreditar os portugueses que o que viam era de facto real.

Eu fui um daqueles portugueses que me senti mal com a montagem descarada e vergonhosa de tudo quanto foi dito no congresso e, ao mesmo tempo, perplexo, por ver reeleito quase por unanimidade e aclamado em delírio, um indivíduo que andou seis anos a mentir e a causar graves prejuízos ao País e aos portugueses e cujas consequências ainda não são inteiramente conhecidas.

Foi uma ousadia monstruosa utilizar um congresso para transmitir aos portugueses que os graves crimes económicos que cometeu, afinal não são da sua responsabilidade mas sim dos partidos da oposição e da conjuntura internacional. Toda aquela ridícula encenação, foi uma enorme falta de respeito para com os portugueses e demonstrou que o seu interesse não é o seu bem-estar mas apenas e só o poder a qualquer preço.

Já tive ocasião de dirigir palavras elogiosas ao ainda ministro dos negócios estrangeiros, Luis Amado, pela coerência da sua actuação, no cumprimento das suas funções, contrariando declarações e directrizes do primeiro-ministro, procurando ser verdadeiro e demarcando-se da restante equipa de governantes que cumprem religiosamente e sem questionar as ordens do chefe.

A visão que tive do tal congresso socialista, caso pretendesse descrevê-la, não seria capaz de o fazer tão clara e brilhantemente como Manuel Maria Carrilho, no seu artigo de opinião no Diário de Notícias de 14 de Abril de 2011. Nesse sentido e com a devida vénia, faço questão de divulgar tão realística opinião sobre o que foi o magistral embuste, protagonizado pelo Secretário-Geral do PS e seus pares, num congresso onde deviam encontrar soluções para os graves problemas que criaram ao País e aos portugueses.

Eis o brilhante artigo:


O álibi
por MANUEL MARIA CARRILHO
Opinião/DN/14.04.2011
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Ao ver as reportagens do Congresso do PS, a pergunta que mais frequentemente me ocorreu foi como é que os Portugueses, na angustiante situação que vivemos, olhariam para aquele espectáculo.

Um espectáculo que exibia uma incómoda exuberância de meios ao mesmo tempo que revelava uma montagem atenta ao mais ínfimo pormenor (com música, abraços e lágrimas). Mas de onde, na verdade, não brotava uma só ideia, uma só preocupação com o País, uma só proposta para o futuro...

Onde, pelo contrário, era bem visível a obsessão com o poder e a preocupação em bajular o líder no seu bunker, seguindo um guião e repetindo "ad nauseam" um só argumento, com uma disciplina de fazer inveja ao PCP!...

Ter-se-á atingido aqui o lúgubre apogeu do "socialismo moderno", esse híbrido socrático que ficará na história por ter esvaziado o Partido Socialista de quase todos os seus valores patrimoniais e diferenciadores, reduzidos agora a um mero videoclip.

Como na história ficará também a indigência intelectual e o perfil ético de tantos "senadores" do PS que subiram ao palco para - com completo conhecimento de causa sobre o gravíssimo estado do País - acenar cinicamente aos militantes e aos Portugueses, por puro e interessado calculismo político.

O Congresso assumiu a estratégia de Sócrates que é, há muito, clara: ignorar os factos e sacudir as responsabilidades. Inventando uma boa história, que seja simples, que hipnotize as pessoas e, sobretudo que as dispense de olhar para os últimos seis anos de governação, para os números do desemprego, do défice, da dívida ou da recessão. Ou de pensar nas incontornáveis consequências de tudo isto no nosso futuro. Eis o marketing político no seu estado mais puro, e mais perverso.

Esta história começou a ser preparada logo em Janeiro, quando era por demais evidente o que se iria passar com o nosso endividamento e com as nossas finanças públicas. Sócrates lançou então o slogan "Defender Portugal", insinuando subliminarmente que os adversários do PS só podiam ser adversários de Portugal.

Montado o cenário, faltava apontar os vilões. Primeiro, o inimigo externo, e para isso diabolizou-se o FMI, qual dragão que paira ameaçadoramente sobre as nossas cabeças, e contra o qual o herói luta com denodo. Um pouco mais tarde, com o chumbo do PEC IV, estava encontrado o inimigo interno. Um inimigo que "tira o tapete" ao nosso herói, exactamente quando este "ia salvar Portugal". Ferido, o herói não sai de cena. Ei-lo que se reergue, determinado, para mais uma batalha. Desce o pano, e agenda-se o segundo acto para dia 5 de Junho.

Há que reconhecer: tudo isto foi muito bem planeado, teatralizado e concretizado, de modo a que esta fábula funcione não só como um álibi para Sócrates mas, também, como uma "cassete" de campanha.

Montada a história, trata-se agora de repeti-la. É como se todos os dirigentes socialistas passassem a falar pelo teleponto do próprio Sócrates, como se todos tivessem esse teleponto dentro da própria cabeça - e isso, como vimos, funciona, pelo menos em mundos como o da "bolha" do Congresso de Matosinhos.

A força da história avalia-se pelo modo como deforma os factos e maquilha a realidade. Em Matosinhos, ela foi muito eficaz para esconder aquilo que na verdade mais perturba os socialistas: esta é a terceira vez que o FMI é chamado a intervir em Portugal, e, sendo verdade que veio sempre a pedido de governos liderados pelo PS, esta é a primeira vez em que vem devido a erros de governação do próprio PS.

Isto nunca tinha, de facto, acontecido: em 1977/78 o FMI veio por causa dos "excessos" revolucionários, e em 1983/84 para corrigir os deslizes do governo de direita, da Aliança Democrática. Em ambas as situações o PS apareceu, com a coragem de Mário Soares, a corrigir os erros de governações anteriores e a defender o interesse nacional. Desta vez é diferente: o FMI é chamado a Portugal justamente devido à acção de um governo do PS, dirigido pelo seu secretário-geral.

Para grandes males, grandes desculpas? É o que parece. Esta história inventada pelos conselheiros de Sócrates vai fazendo o seu caminho. Espalha-se com mais desenvoltura que um programa eleitoral, e consegue fazer com que muita gente, sem dar por isso, acredite no inacreditável: num dia o nosso primeiro-ministro estava "quase a conseguir salvar-nos", e no dia seguinte o chumbo do PEC IV abriu um buraco de 80 mil milhões de euros...

Não consigo conformar-me com este modo de "fazer política". Sofro, como milhares de socialistas, e certamente muitos mais portugueses, com este tipo de comportamento que joga no "vale tudo" para permanecer no poder. Ao arrepio de todos os valores, ignorando as mais elementares regras da ética, transformando a política num mero exercício de propaganda que se avalia por um único resultado: continuar no poder.

O Partido Socialista ficou reduzido ao álibi de Sócrates. Um secretário-geral que deu sem dúvida provas como candidato eficaz, mas que também já as deu como governante medíocre, conduzindo o País à bancarrota e à mais grave crise que o País já conheceu desde o 25 de Abril de 1974.

Foi com estes dados que o PS saiu do Congresso, à espera de um milagre eleitoral no próximo dia 5 de Junho. Mário Soares falava prudentemente, aqui no DN de anteontem, no risco de um duche gelado que entretanto o PS corre. Mas mesmo que tal não aconteça, não haja ilusões: ganhe ou perca, no dia seguinte às eleições este PS do álibi vai estar como estava na véspera - com uma mão-cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Talvez, finalmente, a olhar para o abismo onde nos conduziu. E quanto a Portugal, o que será de nós?

1 comentário:

Oswaldo Jorge do Carmo disse...

Ao Autor deste SITE:

Exmo Senhor,
Ainda é bem que não é nenhum Intelectual do PSD, que escreve todas estas Verdades. É um Intelectual do PS. Todavia, não é só este Senhor. Já são vários, com a verdadeira visão, de como este Senhor, deixou o País, a dizer a mesma coisa!!
Mas, ainda há uma coisa, que me põe mais surpreendido, perplexo e admirado: Foi, agora, publicada uma Sondagem, talvez encomendada, que mostra o PS, nas intenções de Voto, à frente do PSD!!!!!!!!
Que Jesus, não o do Benfica, esteja connosco!!!