terça-feira, 15 de maio de 2012

ANTÓNIO DE SOMMER CHAMPALIMAUD


PERPETUAR PARA ALÉM DA MORTE
António de Sommer Champalimaud foi um dos mais extraordinários empresários portugueses do século XX (1918/2004).
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Aos 19 anos, na sequência da morte de seu pai, abandonou os estudos na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e tomou conta da empresa do progenitor, já que era o mais velho de quatro irmãos. Champalimaud recebeu do pai um negócio tecnicamente falido, reerguendo-o com sucesso e partiu para a construção de um império empresarial que foi considerado o maior do País.
O mundo empresarial de António Champalimaud abrangia construção, imobiliário, vinhos do douro, cimentos, siderurgia, banca, celulose, seguros, etc. O seu mundo empresarial estendia-se às ex-colónias de Angola e Moçambique e também ao Brasil.
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Em 1969 surge um contratempo na vida de Champalimaud, na sequência da contestação feita pelos seus irmãos, no Caso da Herança Sommer, parte para o México, para evitar um mandado de captura no processo.
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Em 1973 volta a Portugal depois de ter sido ilibado no processo pelos tribunais mas por pouco tempo, já que na sequência da Revolução dos Cravos é obrigado a abandonar o País e já no exílio assiste à nacionalização do seu património, considerado na época, a sétima maior fortuna europeia.
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Porém, este grande empresário, depois de passar por França, fixa-se no Brasil e não cruza os braços. Inteligente e empreendedor, dedica-se à actividade agrícola, à criação de gado e à produção de cimento e em década e meia consegue reerguer o seu património.
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O sucesso empresarial alcançado no Brasil permite-lhe regressar a Portugal numa confortável situação financeira, a qual deu muito jeito para investir no processo de privatização das empresas públicas,  encetado pelo Executivo de Cavaco Silva.
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Se dúvidas houvesse quanto à brilhante capacidade de negociar de Champalimaud, a sua actuação entre 1992 e 1997, eliminaria todas as dúvidas. Em cinco anos conseguiu refazer uma boa parte do seu património nacionalizado por Vasco Gonçalves, acabando por negociá-lo com o Banco Santander Central Hispano, recebendo 301 milhões de contos e uma participação de 3,5% do ncapital do maior Banco espanhol, ficando como accionista de referência.
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Há quem veja nesta atitude de Champalimaud (venda do seu património ao Banco espanhol), uma espécie de vingança pelo que lhe fizeram após o golpe militar de 25 de Abril de 1974. Se foi uma vingança, ela foi realmente muito bem orquestrada, graças aos milhões que em tão poucos anos realizou no Brasil.
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Mas a intenção desta mensagem não era de modo algum falar da vida e da obra do maior empresário português de todos os tempos mas tão somente salientar o gesto magnânimo que em final de vida quis legar ao País e ao mundo, deixando em testamento a soma de 500 milhões de euros destinados à construção de uma fundação, em memória dos seus progenitores, Ana de Sommer Champalimaud e Carlos Montez Champalimaud, dedicada à investigação biomédica.
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António Sommer Champalimaud, se em vida foi um extraordinário homem de negócios, na morte demonstrou uma enorme grandeza de alma, oferecendo parte da sua fortuna ao País que tão mal o maltratou, para ser aplicada na investigação científica e na descoberta de medicamentos para a cura de doenças que matam diariamente milhares de pessoas em todo o mundo.
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A sua vontade testamentária foi devidamente acautelada ainda em vida e cumprida à risca pela pessoa que o próprio Champalimaud designou para presidir aos destinos da Fundação. A Drª Leonor Beleza tem desenvolvido um trabalho notável, ao ponto de os maiores investigadores norte americanos afirmarem que o melhor local para se fazer investigação fora da América, é a Fundação Champalimaud, em Portugal.
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Por tudo isto, será fácil constatar que o nome de CHAMPALIMAUD perpetuará para além da morte, ao contrário daqueles que tiveram grandes responsabilidades nos saques que se realizaram em Portugal a seguir ao golpe militar de 25 de Abril de 1974 e que na maioria dos casos, vivos ou mortos, já ninguém se lembra deles.
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Por outro lado, no pós 25 de Abril, os pseudo-empresários portugueses, iniciaram uma outra forma de empreendorismo ruinoso, assente em elaborados esquemas de corrupção, cujos milionários proveitos em vez de serem  aplicados no desenvolvimento do País e na criação de emprego, são sistematicamente desviados e escondidos em sigilosos paraísos fiscais.
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Com raríssimas excepções, é esta espécie de empresários que floresce em Portugal; que é bem vista pelo Estado, pelo poder político e judicial e que até tem honras condecorativas no 10 de Junho; que têm carta branca para sacar todo o dinheiro que querem das instituições bancárias e depois de se encherem, estão-se marimbando para os compromissos assumidos e para a crise económica, abrem falência e zarpam do País para um qualquer lugar tranquilo do globo onde possam gozar dos rendimentos acumulados.
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Meu caro Champalimaud, fazendo uma simples comparação do antes e do depois, só posso dizer: "adeus mundo, cada vez a pior".

4 comentários:

Unknown disse...

Sempre que passo por aqui, aprendo alguma coisa interessante!

Muita paz!

Prezado amigo, aqui vai uma sugestão de blog que achei que o interessaria:

http://mestrechassot.blogspot.com.br/
O amigo faz postagens diárias de assuntos variados e de bom alvitre!

Muita paz!

Anónimo disse...

Olá Manuel,

Dá gosto ler textos, assim.
Li-o duas vezes, não, que o não tivesse percebido à primeira, mas era preciso sentir a intensidade e a veracidade das suas palavras.

CHAMPALIMAUD, foi daqueles casos, fora do comum.
Homem de aspeto pouco risonho e afável, mas com um coração, que está e esteve à vista de todos nós.

As pessoas com grandes fortunas, procedem, muitas vezes, como a citada figura, no seu texto. Pensemos no Senhor Gulbenkian, por exemplo. Vastíssima obra deixou.

Os meus parabéns pela tema por si escolhido e pela grandiosidade destes corações.

Resto de boa semana.
Abraço de consideração.

Anónimo disse...

Boa noite Manuel,

Fico-lhe muto agradecida e até sensibilizada, pelo sua atitude e disponibilidade.
Já fui contactada por uma Editora, mas tenho receio de arriscar. Se lançar um livro, será, naturalmente, um dos meus ilustres convidados, e que terá a agradável "tarefa" de recitar aquilo que escrevo.
Eu não sei declamar, nem o que escrevo, nem aquilo que os outros escrevem. Só sei sentir.
Ficarei muito feliz.
Obrigada.

Abraço de estima.

Oswaldo Jorge do Carmo disse...

Exmo Senhor
Autor Desta Publicação
Lisboa

Exmo Senhor,

De facto, diz o Ditado: "Amor com Amor se paga". Este Senhor, assim, não procedeu. Este Senhor, recebeu Ódio e Inveja, e deu Amor pelo Próximo!!!! Não há, até porque já não têm o mesmo significado, que tinham no seu e no meu Tempo, Adjectivos para Classificar este GRANDE HOMEM!!!!!

Portugal não precisava nem precisa, dos actuais Oportunistas-Parasitas: Portugal precisava de HOMENS como este, às centenas e aos Milhares!!!!!!!!!

Só assim é que sairia da Crise, devido a tanta CORRUPÇÃO, em que nos meteram.
Laranjeiro, 17-05-2012