sexta-feira, 25 de maio de 2012

ESTRANHA FORMA DE REIVINDICAR EM DEMOCRACIA!!!


Imagem retirada do Google

Em qualquer País democrático do mundo, uma grande percentagem dos trabalhadores não tem qualquer poder reivindicativo e, por isso mesmo, estão condenados a aceitar as condições de trabalho e de remuneração que lhes são impostas.
.
No entanto, há uma outra percentagem que pelo facto de exercerem a sua actividade em grandes empresas públicas e privadas, algumas com grande responsabilidade na área dos transportes públicos, utilizados diariamente por milhares de pessoas (Carris, Metro, CP, Ana, etc.), se servem dessa circunstância para reivindicar e impôr regras às administrações onde trabalham.
.
É muito estranha e injusta esta forma de reivindicar em democracia porque só alguns trabalhadores beneficiam dela. Os trabalhadores da ANA, da Metro, da Carris, da CP e de outras importantes empresas de prestação de serviços, podem decretar uma greve e impedir que em determinada data, não circulem autocarros, comboios, metro e não haja movimento de aviões nos aeroportos, mesmo que uma boa parte dos companheiros e a população em geral não concorde.
.
Reivindicar melhores condições salariais ou outras, através de greves que prejudicam e põem em causa a liberdade de outros trabalhadores, não me parece uma actuação consentânea com o conceito de democracia, se nos lembrarmos que (a liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro).
.
Onde está, neste caso, a liberdade do outro, o que é contra a greve, o que pretende ir trabalhar e precisa do transporte? Onde está a liberdade dos que sofrem contratempos e prejuízos significativos por terem sido privados dos meios de transporte? E, por outro lado, que dizer dos "piquetes de greve" que sistematicamente impedem e ameaçam os que querem trabalhar?
.
Os transportes colectivos são de todos os trabalhadores e não deveria ser possível que um pequeno grupo de grevistas, pudesse paralisar os transportes, prejudicando toda uma população.
.
Cada vez que há greves no sector público ou privado, ao nível das grandes empresas, oiço sempre falar em milhões de euros de prejuízo. Se antes das greves as empresas argumentavam não poder suportar os encargos com as reivindicações, como é possível, depois, dar satisfação a essas mesmas reivindicações?
.
Durante cerca de quarenta anos de actividade profissional ao serviço do Estado, nomeadamente a partir de 25 de Abrl de 1974, porque antes não havia greves, sempre recusei aderir, precisamente porque entendia que a população em geral não tinha que ser prejudicada com problemas que não lhe diziam respeito. Fui sempre a favor do diálogo e continuo a pensar que é por essa via que se resolvem os problemas. O homem é o único animal do planeta a quem Deus privilegiou com o dom da fala para que pudesse comunicar e sanar conflitos através dela. Desperdiçar tão maravilhoso dom, é contrariar a intenção do Criador e, ao mesmo tempo, complicar e agravar situações de simples resolução que redundam sempre em prejuízo da grande maioria dos trabalhadores.
.
Por último, só queria lembrar que numa conjuntura económica tão difícil em que cerca de um milhão de portugueses não tem emprego, ao assistirem a reivindicações de classes privilegiadas de trabalhadores que continuam a ter garantido o seu emprego e o vencimento no final de cada mês, não deixarão de pensar o quanto tal actuação é insensata, insensível e desprovida de qualquer sentido de solidariedade.
.
Estranha forma de reivindicar em democracia!


4 comentários:

Anónimo disse...

Olá Manuel,

"Estranha forma de vida" não era um fado de Amália?
Penso que sim.
Pois é assim. Os trabalhadores, que mais ganham e mais regalias têm, são aqueles, que "por dá cá aquela palha", fazem greve.
Também nunca fiz uma greve. As coisas resolvem-se com palavras.
O diálogo é, sempre, proveitoso.

Bom fim de semana.
Abraço de estima.

Oswaldo Jorge do Carmo disse...

Exmo Senhor
Autor desta Publicação
Lisboa

Exmo Senhor,

Assim é, efectivamente. Sempre ouvi dizer, que só dá quem não tem. Quem tem, não dá, nada, a ninguém.

De facto, só fazem Greivindicações os que têm melhores Empregos e mais Regalias. Os outros, além de não ganharem nada, ficam, cada vez, pior.

Mas há outra coisa, para mim, mais estranha, que não compreendo: E os MÁRTIRES que pagaram, com tantos sacrifícios, o PASSE?

Enquanto o Governo não alterar esta situação, pois pode fazê-lo, as Empresas de Transportes, estão a pedir a nossa Senhora de Fátima que haja, cada vez, mais GREVES!!!!!!!!

Eu quero, com isto, dizer, que as Empresas ganham mais, com Greves, do que se estivessem a Operar.

Só quando as Empresas ou os Sindicatos, forem obrigados a indemnizar os detentores de Passes Sociais, é que, esta pouca vergonha, vai acabar!!!!!!!!!!!!
Laranjeiro, 26-05-2012

Sónia disse...

Permita-me discordar.

"É muito estranha e injusta esta forma de reivindicar em democracia porque só alguns trabalhadores beneficiam dela". Esta afirmação simplesmente não é verdade. Todos os trabalhadores têm direito à greve em teoria. Na prática não têm porque são alvo das pressões dos trabalhadores que jogam com a conjuntura económica e com a situação cada vez mais precária dos trabalhadores. Considera esta situação justa? correcta? é o: não tens direitos mas não te queixes porque se não ficas sem emprego.

Já é difícil a qualquer trabalhador lutar pelas suas condições de trabalho contra empregadores cegos pelo capitalismo, pior é quando a opinião pública egoísta e mal informada ajuda ao ataque.

O que devíamos todos fazer era querer melhores condições e querer que todos tenham direito a elas.

A respeito da CP... não é o pagamento das horas extraordinárias aos trabalhadores que leva a empresa à falência mas sim as sucessivas más administrações que recebem ordenados milionários.

Compreendo que as greves causem problemas nas vidas de todos, mas também compreendo o ponto de vista do trabalhador a quem pedem que trabalhe sem a remuneração justa, esse trabalhador também tem família para alimentar, já pensaram nisso? e não é por tantos de nós não terem coragem para reivindicar condições de trabalho que o outro não deve.

De resto, nenhum o sindicato da CP não decretou greve porque sim. antes houve esse tempo de diálogo que também acredito ser a melhor via. Mas quando a entidade patronal se recusa a ouvir resta aos trabalhadores mostrar que de facto são necessários para a empresa.

Quanto a mim quando as greves nos transportes me afectam faço duas coisas. Primeiro procuro ler os manifestos de greve, saber se concordo com eles. Se for o caso então o que há a fazer é informar a administração de como preferia que o dinheiro do meu passe fosse empregue a garantir condições de trabalho justas aos trabalhadores.

Ah! e em jeito de nota final a expresssão: um pequeno grupo de grevistas também não está correcta. As adesões têm sido enormes.

Manuel Carmo Meirelles disse...

Cara Sónia

Em primeiro lugar, obrigada pelo seu comentário.
Em democracia cabe toda a diversidade de opiniões, as quais nos devem merecer todo o respeito.
O pluralismo é indispensável e a crítica (séria e construtiva), deve fazer parte obrigatória do quotidiano.
No que toca à minha mensagem "Estranha Forma de Reivindicar em Democracia", embora sendo defensor de melhores condições de vida para a generalidade dos trabalhadores, é óbvio que não concordo com alguns tipos de greves, sobretudo aquelas que afetam a grande maioria da população de uma região ou de um País e que no caso dos transportes, tem uma agravante duplamente penalisante: as pessoas já investiram o seu dinheiro na compra dos títulos de transporte, sendo obrigadas a fazer nova despesa e muitas delas vão perder a remuneração desse dia ou dias, por não poderem chegar ao local de trabalho. As greves criam situações dramáticas para muita gente, disso ninguém tem dúvidas e, por isso mesmo, devem ser muito ponderadas e só recorrer a elas depois de esgotadas todas as possíveis soluções.
Para além disso, há uma frase muito célebre, em democracia: " A liberdade de cada um termina onde começa a dos outros".
Para além disso, "Liberdade é, por definição, a faculdade de uma pessoa, por seu livre arbítrio, fazer ou deixar de fazer algo".
Pois é essa faculdade de uma pessoa fazer ou deixar de fazer algo (por exemplo uma greve) que deve ser muito bem ponderada, pesando até que ponto estaremos a colidir com a liberdade dos outros.
Mais uma vez obrigada pelo seu comentário e volte sempre ao "Direito de Opinar", mesmo não concordando com o seu autor.
Ótima semana.