quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

A PROPÓSITO DE BARBA E CABELO COMPRIDO

Imagem retirada do Google

Lembro-me que enquanto jovem costumava usar cabelo e barba compridos, despreocupadamente, sem influências de qualquer modelo ou moda que então estivesse em voga. Talvez o fizesse por comodismo, fugindo da obrigação de desfazer a barba todos os dias e de cortar o cabelo, pelo menos uma vez por mês. No fundo, tal atitude não seria mais do que um pequeno  acto de rebeldia próprio de um jovem, entre os 17/18 e os 25 anos de idade.
 
Porém,  esta excelente fase da minha idade jovem foi atropelada e desfeita pelo inesperado e brutal processo de descolonização, na sequência do golpe militar de 25 de Abril de 1974, uma vez que vivia na ex-Província de Angola. O tal processo de descolonização resultou numa imensa tragédia que roubou a vida a milhares de portugueses e arruinou a felicidade de centenas de milhar de famílias que perderam os seus entes-queridos e se viram espoliados de todo o seu património,  construído ao longo de muitos anos e até de muitas gerações, fruto de muito trabalho, dedicação e espírito de sacrifício.
 
Por temerem ser mortos a qualquer momento, ser presos e julgados sem culpa formada ou maltratados, humilhados e torturados, os portugueses fugiram em debandada, como puderam, por terra, mar ou ar, com a roupa do corpo, rezando para que Deus os guiasse até um porto seguro. Pelo mesmo motivo, eu e a família, temendo o pior, numa terra em que a população foi abandonada à sua sorte pelas autoridades portuguesas, completamente vulnerável ao saque e à chacina dos diversos grupos rivais de bandoleiros, fortemente armados, abandonámos a nossa casa e todos os nossos pertences e viajámos para Portugal onde, infelizmente, continuou a nossa má sorte durante mais alguns anos.
 
Peço perdão, na verdade, desviei-me um pouco do assunto que queria transmitir aos que seguem este blogue e que era o seguinte: antes do golpe militar de 25 de Abril, havia um código de conduta nas forças armadas portuguesas de trajar a farda a rigor, botas ou sapatos sempre bem engraxadas, usando cabelo curto e barba sempre cortada. No pós 25 de Abril, assistiu-se a uma degradação total dessa conduta e passou a ser "cool" os militares deixarem crescer a barba e o cabelo e trajarem a farda de qualquer maneira, até andar de tronco nu.
 
Os revolucionários, a maioria deles de formação espontânea, imediatamente após o golpe militar da madrugada de 25 de Abril de 1974, fizeram questão de ostentar a verdadeira imagem de marca:  barbas fartas e  cabelos compridos. Uma verdadeira bandalheira, completamente insuportável para quem tinha cumprido quase 4 anos de serviço militar sem nunca ter sido repreendido por estar mal fardado, mal barbeado ou com o cabelo fora dos limites autorizados.
 
Por ter ficado revoltado e com péssima impressão das forças armadas estacionadas em Angola com a missão de protegerem os cidadãos e os seus bens mas que infelizmente não protegeram coisíssima nenhuma eu, que até tinha adoptado um certo desleixo relativamente à barba e ao cabelo, passei a andar impecavelmente barbeado e com o cabelo sempre bem cortado porque não queria, de forma nenhuma, ser associado à maioria dos "revolucionários" de meia tigela que nasceram como cogumelos a partir da madrugada de 25 de Abril para, oportunisticamente e de forma despudorada, em nome da revolução, ensaiarem todo o tipo de práticas extremistas, abusivas e criminosas, afrontando e perseguindo muitas pessoas de bem, a quem rotulavam de fascistas. Nesse período, os regressados das ex-colónias, apelidados de "retornados", também foram vítimas dessa gente "revolucionária", a quem discriminaram no acesso ao emprego e a tantas outras coisas e usaram como "bodes expiatórios" para explicar as causas de tudo quanto acontecia de mal em Portugal.
 
Presentemente, a barba e o cabelo voltam a ser a imagem de marca, não dos "revolucionários" do 25 de Abril de 1974 porque esses ou já estão velhos ou já nem sequer pertencem ao número dos vivos, mas dos extremista jihadistas radicais e, por esse motivo, vou continuar a ter muito cuidado com a minha barba e cabelo, de forma a que a minha imagem não possa ser confundida com um desses combatentes de Alá, apesar da cor da minha pele ser bastante morena. Não quero nada com essa gente que mata indiscriminadamente inocentes e fuzila e decapita barbaramente tanto os prisioneiros de guerra como jornalistas, funcionários da Cruz Vermelha e de outras organizações internacionais que estão no terreno para ajudar os refugiados, os doentes e os feridos.

Nada tenho contra a sua religião nem contra os motivos políticos que perseguem. Porém, sou absolutamente contra os métodos hediondos que utilizam para intimidar e espalhar o terror, fazendo atentados suicidas em locais públicos para matar o maior número de pessoas e fuzilando e degolando todos aqueles que não comunguem dos mesmos ideais políticos e religiosos.

Eu sei que a barba e o cabelo comprido não definem, por si só, o carácter de um homem. Mas aquela difícil e dolorosa experiência do "25 de Abril" com a actuação dos "revolucionários" e agora esta tragédia protagonizada pelos extremistas e radicais jihadistas, fazem com que, mesmo não querendo, acabe por associar certo tipo de barbas, aos então "revolucionários" e aos agora"jihadistas".

Quando se vivem experiências tão dramáticas e traumáticas, é difícil esquecê-las e impossível não lembrar os seus autores.

Barbas? Não! Obrigado.



 
 
  

2 comentários:

Unknown disse...

Bom dia
Li o teu desassossego...
Barba e cabelo fora dos limites e do bom gosto.
Na minha juventude também tive estes devaneios e foram saudáveis. Foram caminhadas de auto afirmação.

Serviço militar e disciplina era impensável arriscar cabelo ou barba fora dos regulamentares.

Retornados - Foram muitos e alguns bem marcados pelos danos e perdas sofridos e pelo regresso sem esperanças.

Oswaldo Jorge do Carmo disse...

Exmo Senhor
Autor desta Publicação
Lisboa

Exmo Senhor,

Tive, sempre, medo de qualquer tipo de radicalismo.

Porém, esse radicalismo, só existe porque as Instâncias Internacionais que têm poder para acabar com ele, não actuam em conformidade.

De facto, é lamentável e absurdo como é que umas centenas de Islâmicos degolam, sem qualquer piedade, Pessoas inocentes, e a Comunidade Internacional continua impávida e serena como se nada se estivesse a passar!

Porque, cada Pessoa, para o bem e para o mal, faz aquilo que lhe deixam fazer!

Quanto à nossa Descolonização Exemplar e Barba e Cabelos compridos, de facto e infelizmente,nessa Época, passou-se algo semelhante.

Quando os Chefes Militares, também são revolucionários, o que é que as Pessoas indefesas, a quem permitiram que lhes roubassem tudo e matassem os seus entes queridos,poderiam fazer?
Laranjeiro, 04-02-2015