sexta-feira, 11 de novembro de 2011

IMAGINEM - Mário Crespo




Gosto de ler Mário Crespo. Aprecio as suas reflexões sobre os mais divversos temas e o de hoje, não foje à regra. Este "imaginem" de Mário Crespo, um jornalista frontal de antes quebrar que torcer, podia muito bem passar da imaginação à prática se os gestores que ele invoca fossem homens de alma e coração. Porém, tirem o cavalinho da chuva, porque em Portugal não existem administradores capazes de abdicar de um cêntimo dos seus chorudos ordenados. Eles, se pudessem, não teriam qualquer pudor em aumentar ainda mais as suas principescas remunerações.
Pois, por apreciar tanto os artigos de Mário Crespo, dá-me imenso prazer publicá-los no meu modesto blogue, acima de tudo porque é necessário e urgente denunciar as situações escandalosas que envergonham os cidadãos e empobrecem o nosso País.
Eis o excelente artigo de Mário Crespo:
"Imaginem que todos os gestores públicos das setenta e sete empresas do Estado decidiam voluntariamente baixar os seus vencimentos e prémios em dez por cento. Imaginem que decidiam fazer isso independentemente dos resultados.

Se os resultados fossem bons as reduções contribuíam para a produtividade. Se fossem maus ajudavam em muito na recuperação.

Imaginem que os gestores públicos optavam por carros dez por cento mais baratos e que reduziam as suas dotações de combustível em dez por cento.

Imaginem que as suas despesas de representação diminuíam dez por cento também. Que retiravam dez por cento ao que debitam regularmente nos cartões de crédito das empresas.

Imaginem ainda que os carros pagos pelo Estado para funções do Estado tinham ESTADO escrito na porta.

Imaginem que só eram usados em funções do Estado.

Imaginem que dispensavam dez por cento dos assessores e consultores e passavam a utilizar a prata da casa para o serviço público.

Imaginem que gastavam dez por cento menos em pacotes de rescisão para quem trabalha e não se quer reformar.

Imaginem que os gestores públicos do passado, que são os pensionistas milionários do presente, se inspiravam nisto e aceitavam uma redução de dez por cento nas suas pensões. Em todas as suas pensões. Eles acumulam várias. Não era nada de muito dramático. Ainda ficavam, todos, muito acima dos mil contos por mês.

Imaginem que o faziam, por ética ou por vergonha.

Imaginem que o faziam por consciência.

Imaginem o efeito que isto teria no défice das contas públicas.

Imaginem os postos de trabalho que se mantinham e os que se criavam. Imaginem os lugares a aumentar nas faculdades, nas escolas, nas creches e nos lares.

Imaginem este dinheiro a ser usado em tribunais para reduzir dez por cento o tempo de espera por uma sentença. Ou no posto de saúde para esperarmos menos dez por cento do tempo por uma consulta ou por uma operação às cataratas.

Imaginem remédios dez por cento mais baratos.

Imaginem dentistas incluídos no serviço nacional de saúde.

Imaginem a segurança que os municípios podiam comprar com esses dinheiros.

Imaginem uma Polícia dez por cento mais bem paga, dez por cento mais bem equipada e mais motivada.

Imaginem as pensões que se podiam actualizar.

Imaginem todo esse dinheiro bem gerido. Imaginem IRC, IRS e IVA a descerem dez por cento também e a economia a soltar-se à velocidade de mais dez por cento em fábricas, lojas, ateliers, teatros, cinemas, estúdios, cafés, restaurantes e jardins.

Imaginem que o inédito acto de gestão de Fernando Pinto, da TAP, de baixar dez por cento as remunerações do seu Conselho de Administração nesta altura de crise na TAP, no país e no Mundo é seguido pelas outras setenta e sete empresas públicas em Portugal.

Imaginem que a histórica decisão de Fernando Pinto de reduzir em dez por cento os prémios de gestão, independentemente dos resultados serem bons ou maus, é seguida pelas outras empresas públicas.

Imaginem que é seguida por aquelas que distribuem prémios quando dão prejuízo.

Imaginem que país podíamos ser se o fizéssemos.

Imaginem que país seremos se não o fizermos......"

5 comentários:

Unknown disse...

Penso que este foi um dos melhores temas explorados por Mário Crespo.

A classe dirigente não está disposta a renunciar aos seus ordenados principescos e como se não bastasse ainda tem uma retribuição extra de 20%. Este ano a fatia de leão foi para a assembleia da República.

Afinal nem estão dispostos a reduzir uns centimos ....

Manuel Carmo Meirelles disse...

Obrigado meu amigo pela visita e pelo comentário.
Já sentia a sua falta.
Espero que já tenha ultrapassado todos os problemas relacionados com o funcionamento do seu blogue. No seu apêlo de ajuda, nada pude fazer porque sou um leigo na matéria.
Forte abraço.Obrigado.

Oswaldo Jorge do Carmo disse...

Exmo Senhor
Autor desta Publicação
Lisboa

Exmo Senhor,

De facto, este Artigo, do Exmo Senhor Mário Crespo, é um Artigo, fora de série!!!

Foi, devido a verdades com estas, que lhe acabaram com o Programa, "Plano Inclinado".

Espero que não acabem, de vez, com ele. É destes Homens, destemidos, que nós precisamos.

É pena que sejam, só, IMAGINAÇÕES, porque, para nosso mal, nada disto, vai acontecer.

Laranjeiro, 16-11-2011

David Pereira da Silva disse...

Caro Manuel,

Imagine que Mário Crespo abdica de 10% dos seus chorudos 7.000€/mês?!?!?

O texto está bem escrito, sim... diria até que está poético. Mas há um provérbio popular que se aplica bem a esta situação: "diz o roto ao nú" (fantásticos poetas lusitanos!)

Manuel Carmo Meirelles disse...

Meu caro David Silva
Na verdade, não sei quanto aufere mensalmente o Senhor Mário Crespo. Se de facto ganha os tais 7.000 €, bem podia também aplicar a taxa de 10% a ele próprio porque para se fazerem críticas, é preciso ter moral para as fazer.
Mas sobre o Mário Crespo, o que eu disse e mantenho é que gosto de ler as suas crónicas e mentiria também se não dissesse que gosto da forma desassombrada como questiona os seus convidados na SIC notícias e aborda temas que outros jornalistas não têm coragem.
A minha opinião sobre o jornalista Mário Crespo baseia-se no que lhe tenho visto fazer ao longo da sua carreira e parece-me um homem íntegro. E digo parece, porque infelizmente, um sem número de personalidades públicas que eu tinha como íntegras, afinal não o eram.
Meu caro David Silva, como neste País, muito raramente, o que parece, é, será cada vez mais necessário ter algum cuidado com as apreciações que se fazem.
Obrigado pelo reparo.
Cumprimentos.