Imagem retirada do Google
Não há palavras suficientemente fortes no dicionário
de língua portuguesa para descrever todo o horror que viveram as populações
atingidas pelos incêndios do último fim-de-semana. Fiquei surpreendido com a
atitude aligeirada do senhor Primeiro-Ministro que num momento de profunda dor
e luto nacional, apareceu na televisão com um sorriso nos lábios para falar ao
país sobre os incêndios, sobre os quais disse tudo aquilo que lhe interessava
dizer para iludir e “sacudir a água do capote” mas nada disse sobre o que os portugueses
esperavam, sobretudo os familiares e amigos dos mais de cem mortos, devorados
pelo fogo insaciável que lavrou solto e descontrolado, uma vez mais, pelo norte
e centro do país, provocando um rasto desolador de destruição e morte.
O Senhor Primeiro-Ministro perdeu uma grande oportunidade de
falar ao coração dos portugueses, porque não foi capaz de ser sincero, assumindo a sua quota parte de responsabilidades, na qualidade de chefe do governo e não teve também a coragem e o bom senso de enumerar as muitas coisas que correram mal e, ao mesmo tempo, apontar as causas e os
culpados de tão grande tragédia, pedindo humildemente desculpa ao país e às
famílias das vítimas.
Depois da catástrofe de Pedrógão, ouvimos o Senhor Primeiro-Ministro
dizer: “depois de Pedrógão, nada pode ficar como antes”. Agora nesta ridícula e
desapropriada comunicação, refez a frase para dizer: “depois deste ano, nada
pode ficar como antes”. O Senhor Primeiro-Ministro é exímio na arte de ir contornando os problemas, à medida que vão aparecendo, através de uma táctica que incide na desvalorização da sua importância.
Em que é que ficamos, Sr. Primeiro-Ministro? Afinal,
passados apenas quatro meses, Pedrógão repetiu-se, 41 pessoas foram devoradas
pelo fogo, várias aldeias foram tomadas pelas chamas, milhares de hectares de
floresta e terrenos de cultivo foram dizimados e reduzidos a cinzas e não morreram
mais pessoas porque a Divina Providência se encarregou de as salvar da morte, milagrosamente.
Vi imagens de horror, vi populações à sua sorte, sem
qualquer tipo de ajuda, a lutar heroica e corajosamente contra o fogo, na
defesa das suas habitações. Vi carros encurralados pelo fogo nas estradas que
só por milagre se salvaram. Vi gente desesperada nas aldeias, de mãos atadas,
sem comunicações, sem água e sem luz. Vi gente completamente louca gritando,
chorando e rezando. Vi quadros tão dolorosos e dramáticos que enlutaram a minha
alma, me arrepiaram o corpo e me tiraram a vontade de sorrir e de comer.
Para sentir os efeitos de mais esta grande tragédia, é
preciso parar para pensar por alguns momentos e colocarmo-nos no lugar de quem
viveu e sentiu na carne a tragédia dos fogos e perdeu os seus entes mais
queridos. Devemos avaliar o que é a dor de perder um pai, um irmão, um filho,
uma esposa/esposo ou mesmo um amigo ou pessoa conhecida. Da forma ligeira como o Sr. Primeiro-Ministro apareceu na televisão, quer-me parecer que não teve
tempo para parar e pensar por uns momentos, quão grande é a tragédia e a dor daquelas pessoas.
O Sr. Primeiro-Ministro anda tão assoberbado a gerir a
“Geringonça” que ainda não teve tempo nem coragem para tirar ilacções políticas
do descalabro que foi o combate aos incêndios em 2017. Os relatórios apontam
para a ineficácia da Protecção Civil e muitas outras falhas, nomeadamente da
rede de comunicações. Mas não são só os relatórios que apontam essas graves
falhas, também a população portuguesa que assistiu a toda essa incompreensível
bagunçada, semana após semana, tem plena consciência de que houve
descoordenação e incompetência no combate aos incêndios, nomeadamente atrasos
inconcebíveis no imediato ataque à sua nascença e sinalização das estradas que
punham em perigo a vida dos automobilistas. Tem que haver responsáveis por não
ter sido possível, pelo menos, evitar a perda de vidas humanas. Estamos a falar
de mais de uma centena de pessoas que foram vítimas inocentes de fogos que
provavelmente não teriam atingido uma tão grande dimensão se tivessem sido
detectados e combatidos a tempo.
Oh Sr. Primeiro-Ministro e depois, pergunto: que é feito
dos guardas florestais que tão úteis foram enquanto não foram extintos? E por
onde andam os vigilantes que instalados em lugares estratégicos enxergavam os
focos de incêndio e até os criminosos que os ateavam? Durante séculos, Portugal possuiu uma área infindável de floresta, preciosa fonte de receita para o País e para as populações rurais. No período democrático foram extintas ou negligenciadas algumas das estruturas que zelavam pela floresta. O resultado está à vista, em quatro décadas toda essa riqueza foi delapidada e agora, por esse País fora apenas vislumbramos uma paisagem morta, desoladora, em que apenas as pedras escaparam e mesmo assim, ficaram negras.
Mas para além disso, Sr. Primeiro-Ministro, porque não
existe uma boca-de-incêndio nas aldeias? E porque não foram cortadas as
estradas tomadas pelo fogo, impedindo os automobilistas de viajar para a morte?
E depois, Sr. Primeiro-ministro, já que não houve capacidade para defender as
florestas, porque não foram utilizados os meios disponíveis para defender as
habitações e as pessoas? Infelizmente, Sr. Primeiro-Ministro, o amadorismo de gente sem experiência e a
desorganização foram tão evidentes que nem uma coisa nem outra foi conseguida.
V. Excia continua a sorrir, fazendo de conta que nada
se passou e até diz e repete até à exaustão que “este não é o tempo de
demissões, é tempo de soluções”. Que soluções Sr. Primeiro-Ministro, se
passados 4 meses sobre o horror de Pedrógão não foi impedida uma nova tragédia?
Que soluções, Sr. Primeiro-Ministro, se passados 4 meses, o Estado ainda não
prestou o auxílio solenemente prometido às populações de Pedrógão e concelhos
limítrofes e, pelos vistos, também não cumpriu o que prometeu relativamente às
vítimas dos fogos de há um ano, no Algarve e na Madeira? Que soluções, Sr.
Primeiro-Ministro, se perante esta tão grande tragédia nacional, V. Excia
continua a assobiar para o lado, recusando-se a assumir responsabilidades e, ao
mesmo tempo, a apontar os graves falhanços que se verificaram e,
consequentemente os seus culpados?
Senhor Primeiro-Ministro, V. Excia ainda se recorda
como chegou ao cargo de Secretário-Geral do Partido Socialista? Lembra-se
também, com certeza, como se apoderou da presidência da Câmara Municipal de
Lisboa? E, como não há duas sem três, está também lembrado da forma engenhosa e
pouco ética como conquistou o poder e
chegou ao cargo de Primeiro-Ministro?
Todos estes factos são reveladores de um tipo de
carácter que não olha a meios para alcançar os seus objectivos. Mas Senhor
Primeiro-Ministro, quando as ambições e os interesses pessoais se sobrepõem aos
sagrados interesses do País e dos seus cidadãos, estamos perante alguém que não serve e não tem
condições para desempenhar o importante cargo de Primeiro-Ministro e por isso
mesmo, por sua própria iniciativa, deve demitir-se. E se o não fizer, que seja
o povo a exigir a sua demissão, manifestando-se de norte a sul do País. São
imensas as trapalhadas do seu governo que eu aqui e agora não vou enumerar. Não há memória de tanta trapalhada
noutro qualquer governo, a maior parte delas sem a necessária e exigível
explicação.
Na vizinha Galiza, por muitíssimo menos, por terem morrido 4 pessoas nos
incêndios do fim-de-semana, milhares de pessoas saíram à rua nas principais
cidades, nomeadamente, Corunha, Vigo e Ourense, exigindo a demissão do
Presidente da Junta da Galiza, Alberto Núñez Feijóo. Em Portugal é necessário
fazer a mesma coisa, exigindo a sua demissão, Senhor Primeiro Ministro, porque tem tentado secundarizar e minimizar a gravidade dos fogos quando na verdade se trata de uma das maiores tragédias de que há memória. É preciso honrar os mortos e acudir rapidamente, sem burocracias, às necessidades dos vivos, reparando e reconstruindo tudo quanto os fogos destruíram.
O Senhor Presidente da República tem andado com o seu
governo ao colo, Senhor Primeiro Ministro mas creio que está a ficar farto. A forma como ontem se dirigiu aos portugueses demonstra que não aprova o seu comportamento e procura distanciar-se. Ele já deve ter percebido que
se não toma cuidado, poderá ser a próxima vítima do Primeiro-Ministro, tendo em
conta a sua capacidade de conseguir aquilo que quer, ainda que por atalhos e
atropelando os mais elementares valores da ética e da moral.
O Senhor Presidente da República é um homem bom, sábio
e patriota, um verdadeiro arquétipo dos homens e mulheres deste País. O Senhor Presidente da República tem sido inexcedível na atenção, na esperança, no conforto e no carinho que tem levado a todas as pessoas que foram vítimas dos trágicos incêndios. Os portugueses apreciam as suas qualidades e vêem nele a pessoa certa para o cargo que ocupa. É bom que se
acautele, para não vir a ser surpreendido com alguma profunda desilusão que o
prejudique e sobretudo para não ficar ligado às más decisões deste governo e do seu Primeiro-Ministro.
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