quarta-feira, 12 de agosto de 2009

NÃO HÁ BELA SEM SENÃO

No melhor pano cai a nódoa. Este ditado, embora muito antigo, está sempre actual. Ninguém está isento de cometer gafes ou erros, por mais brilhante que seja o seu percurso académico e a sua carreira profissional.

Confesso que cultivei uma certa simpatia por Carlos Abreu Amorim e desde há anos que aprecio as suas intervenções políticas e leio com regularidade os seus artigos de opinião que a maioria das vezes coincidem com a minha maneira de pensar.

Desta vez, porém, discordo totalmente com o conteúdo do postal publicado na última página da edição do Correio da Manhã de 12.08.2009, com o título "Heresias - Azul Eufémia", por ser ofensivo e atentatório dos direitos de uma parte dos cidadãos portugueses que se revêem na Monarquia e gostariam de a ver restaurada em Portugal.

Prefiro pensar que foi um momento menos bom de Carlos Amorim pois poderia ter aproveitado esta soberana ocasião, não para "malhar" nos simpatizantes monárquicos, que nada fizeram para o merecer mas para denunciar a forma como tem sido maltratada a monarquia e a memória de todos aqueles que a serviram, pelos democratas de Abril.

Lembrar que no centenário do assassinato do Rei e do filho herdeiro, os partidos políticos não foram capazes de fazer aprovar na Assembleia da República, um simples voto de pesar e, por outro lado, a Constituição Portuguesa não permite o referendo para avaliar a vontade do Povo.

Mas vejamos o que escreveu Carlos Abreu Amorim:

Um grupo de moços da direita bem-comportada tem um blogue que luta desesperadamente por audiências. A rapaziada diz-se monárquica, o que, em Portugal, não tem qualquer significação especial para além de uma mescla entre um vago saudosismo pindérico com um esforço de ostentação onomático. No fundo, a maioria dos ‘nossos’ monárquicos não passa de patéticos candidatos a aristocratas.

A malta desse blogue quis dar nas vistas e urdiu uma façanha tipo ‘Verde Eufémia’: invadiu a varanda da Câmara de Lisboa e substituiu a bandeira da cidade pela do seu culto, filmando tudo (claro está!).

O que fica desta pantominada? Para além da publicidade grátis aos próprios, temos, ainda, de lhes agradecer a
elucidação acerca do que valem os actuais adeptos indígenas da monarquia.


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Um grupo de moços da direita bem-comportada? Conotar alguém que se revê na Monarquia e que levou a cabo uma acção política em sua honra com a direita bem-comportada é, no mínimo, um atrevimento insensato, na medida em que não conhecendo a ideologia das pessoas, não se pode partir do princípio que sendo monárquico, é de direita. Esta conotação é abusiva porque no universo dos cidadãos monárquicos existem todas as ideologias e não podem os autores da acção na Câmara Municipal de Lisboa ser identificados como sendo de direita, a não ser que Carlos Abreu Amorim os conheça pessoalmente.

Vago saudosismo pindérico? Acha mesmo? Depois de 16 anos de revolução republicana, em permanente guerra civil, 48 anos de ditadura e 34 anos de democracia falhada por incompetência dos políticos e governantes, ainda acha que é saudosismo de mau gosto, piroso, parolo?

Esforço de ostentação onomático? Perdoe-me a correcção mas eu penso que se trata de onomástico (relativo aos nomes próprios). Qual ostentação onomástica? Nenhum monárquico está preocupado com esse tipo de ostentação, o que para mim é preocupante é a escandalosa ostentação de grandes sinais de riqueza, de muita gente, por esse País fora, consequência da má administração da coisa pública, corrupção, fraude, etc., etc. e gozar de um estatuto de impunidade que é vergonhoso, revoltante e muito penalizador para o contribuinte. Isso é que é muito precupante e demonstra bem o estado deplorável em que se encontra a Justiça.

Patéticos candidatos a aristocratas? Nenhum monárquico pensa em privilégios ou títulos de nobreza, uma vez que são verdadeiros democratas, o que se pretende é construir uma sociedade mais fraterna e mais justa, onde todos sejam tratados de forma igual e onde os governos tenham como primeiro objectivo a felicidade da pessoa humana.

Elucidação acerca do que valem os actuais adeptos indígenas da monarquia? Da actuação dos bloguistas "31 da armada" ningém pode ter ficado elucidado acerca do valor dos actuais adeptos da monarquia que tenho a certeza valem muito mais do que o autor do artigo nos quer fazer crer. Pessoalmente, gostei do episódio mas ficaria muito mais satisfeito se em vez de terem hasteado a bandeira monárquica na histórica varanda da Câmara Municipal de Lisboa, tivessem consagrado na Constituição os direitos usurpados à Monarquia.

Depois, querer comparar a actuação do grupo designado "Verde Eufémia" com a dos bloguistas "31 da armada", também não é muito correcta na medida em que os primeiros destruíram um campo de milho, causando prejuízos avultados ao seu legítimo proprietário e os segundos não causaram qualquer dano ou prejuízo à Edilidade. Por outro lado, o segundo é um caso tipicamente político e o primeiro tem a ver com a cultura de transgénicos a que os ecologista se opõem de forma frontal e radical.

Este episódio de hastear a bandeira monárquica na histórica varanda do edifício dos Paços do Concelho, tem o seu quê de simbolismo e fez bem ao ego de muitas centenas de milhar de monárquicos que gostariam de ver consagrada na Constituição da República a possibilidade de realizar um referendo à vontade dos portugueses sobre o modelo de regime que preferem.
Afinal, que raio de democracia é esta que proibe o povo de se exprimir democraticamente sobre a implantação de um outro regime, ao qual se deve a fundação de Portugal, o alargamento das suas fronteiras, a descoberta de novos mundos e a administração do território durante novecentos anos?
Em democracia devem caber todas as tendências políticas, religiosas, culturais, etc. e depois cabe ao Povo escolher, em cada momento e em plena liberdade, a sua vontade.
Os constitucionalistas de Abril, mais papistas que o papa, mancharam a Constituição com algumas normas inconstitucionais, de cariz fascista, sendo uma das maiores nódoas, a proibição do referendo à MONARQUIA.

Afinal, de que têm medo os Republicanos? Se estão assim tão seguros de que a Monarquia morreu no dia 1 de Fevereiro de 1908 com o bárbaro assassinato do Rei D. Carlos e do Príncipe Herdeiro D. Luis Filipe, porque motivo impuseram essa restrição na Constituição?

Uma coisa é certa, o sangue monárquico continua a fervilhar nas veias de muitas centenas de milhar de portugueses e um dia, a sua acção fará com que seja revista a Constituição.Tal não aconteceu ainda nestes 34 anos de regime democrático porque o herdeiro do Trono tem tido um papel pouco activo na consolidação de tais objectivos e os monárquicos também nada fizeram de relevante, até hoje, para alterar tal situação.
D. Duarte Pio de Bragança, herdeiro da Coroa portuguesa, deve desenvolver todos os esforços para que seja consagrado na Constituição o direito de referendar a monarquia e deve assumir um papel mobilizador e unificador de todos os cidadãos monárquicos.

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