sábado, 19 de setembro de 2009

OS RETORNADOS E AS FORÇAS DE ESQUERDA

Memórias de uma tragédia


Ainda hoje não consigo compreender o porquê de uma parte significativa dos retornados das ex-Colónias portuguesas apoiarem e votarem nas forças políticas de esquerda, em especial no Partido Socialista que foi o principal responsável pela trágica Descolonização.

Mais de um milhão de portugueses foram traídos e completamente desprotegidos durante o processo de descolonização que essas forças de esquerda, comandadas pelo PS, levaram a cabo, logo após o 25 de Abril de 1974.

Tudo foi feito em ritmo acelerado e atabalhoado, sem cuidar de salvaguardar os interesses de centenas de milhar de famílias que ali viviam, uma boa parte delas, há várias gerações e às quais se deve muito do progresso e desenvolvimento dessas ex-Colónias, especialmente de Angola e Moçambique.

Com a desonrosa descolonização que foi feita, um autêntico crime de lesa-pátria que ainda não foi julgado e, por isso, os seus autores continuam impunes, todas aquelas centenas de milhar de famílias foram expoliadas dos seus bens materiais e muitas, foram mesmo expoliadas da própria vida.

Foram fortunas incalculáveis perdidas por essas gerações de portugueses, que abandonados à sua sorte, foram forçados a fugir, à pressa, para escaparem com vida daquela fogueira imensa de ódios e vinganças que tudo consumia e que se traduzia numa insaciável matança.

O móbil do crime para milhares de mortes, torturas, raptos e prisões, foi simplesmente a pilhagem dos bens das vítimas.

Angola era um País próspero, rico e desenvolvido, uma das maiores potências económicas de África mas que num pequeníssimo espaço de tempo, devido à política criminosa de traição à Pátria por parte das autoridades portuguesas que tudo permitiram a um dos Movimentos de Libertação, entrou em colapso e foi completamente arruinado, assistindo-se ao saque e destruição de dezenas de milhar de empresas, comércios e indústrias.
Foi o trabalho de muitas gerações de portugueses que ardeu naquela fogueira de ódios e vinganças que uns tantos revolucionários irresponsáveis do 25 de Abril, conotados com as forças de esquerda e com o apoio do MFA, atearam em Angola e em todas as outras ex-Colónias portuguesas e que os deixou arruinados e na mais profunda miséria.

Nestas eleições, como em todas as outras, desde o 25 de Abril de 1974, gostaria de me sentir livre para escolher uma qualquer força política para votar. Infelizmente, nunca pude votar em perfeita liberdade porque há 34 anos, os Partidos de esquerda condicionaram para sempre o meu voto, quando patrocinaram a "exemplar" descolonização portuguesa.

Depois, as dificuldades por que passei e os horrores a que assisti, enquanto viver e conservar a memória, jamais poderei apoiar e votar nas forças políticas que arruinaram a minha vida, a dos meus familiares e de um milhão de portugueses e me condenaram ao exílio, impedindo-me de poder continuar a viver num País que julgava ser de todos os angolanos e que amava, independentemente das convicções políticas, raça, cor, etnia ou religião.

As cobardes autoridades portuguesas, de cócoras perante os Movimentos de Libertação, permitiram que estes actuassem a seu bel-prazer, cometendo toda a espécie de crimes, como pilhagens, raptos, prisões sem culpa formada e milhares de mortos por fuzilamento, despejados em valas comuns e mais tarde identificados, já em decomposição, atravez de uma peça de roupa ou de um qualquer objecto de ornamentação.

Em Angola, a Comunidade de origem portuguesa, era sem dúvida uma força poderosa porque dominava todos os sectores da economia e se conseguisse organizar-se política e militarmente, nem as autoridades portuguesas (MFA) nem os Movimentos de Libertação conseguiriam fazer-lhe frente.

Aliás, os Movimentos, à data do cessar-fogo, eram completamente inofensivos visto que não tinham homens nem armas. Só a partir do momento em que lhes foi permitido instalarem-se em território angolano e após terem recebido do Estado Português, ajudas financeiras consideráveis, lhes foi possível recrutar alguns milhares de homens na população angolana. Por exemplo, o MPLA recorreu ao pé rapado e ao poder popular, a quem distribuiu milhares de armas e que depois tiveram uma intervenção e uma acção decisiva na derrota da FNLA e da UNITA.

A Comunidade de origem portuguesa só não se organizou porque acreditou nas falsas promessas das autoridades portuguesas e porque nunca acreditou na possibilidade de uma traição tão grande aos interesses da Pátria e dos portugueses, a qual culminou com a entrega de Angola a um dos Movimentos (para que serviram os acordos do Alvor?), fugindo de imediato para o barco ancorado na Baía de Luanda e deixando para trás milhares de portugueses, entregues à sua sorte, em situação muito difícil, muitos dos quais foram mortos sem culpa formada.

É por tudo isto que não compreendo o voto nas forças de esquerda, daqueles que como eu foram atingidos pela tragédia da descolonização, a não ser que tenham perdido a memória ou chegado à conclusão de que a descolonização foi extraordinariamente fem feita.

Nesse sentido, o meu leque de opções no dia 27 de Setembro e no dia 11 de Outubro, continua a ser muito restrito.



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