sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A MALDIÇÃO DAS "PRAXES ACADÉMICAS"



Sobre o tema quero dizer que fui, sou e continuarei a ser, um acérrimo crítico de tão absurdas e iníquas práticas. O que me levou hoje a escrever sobre uma tradição que infelizmente subsiste há vários séculos, foi a notícia da tragédia que atingiu um grupo de alunos da Lusófona, arrastados por uma onda, no dia 15 de Dezembro, cerca da 1 hora da manhã, na praia do Meco.
 
Não vou perguntar o que estavam a fazer 7 jovens na praia do Meco, à 1 da manhã, nem tão pouco se tal presença estaria relacionada com "praxes académicas". O que me dói e lamento profundamente, é que 6 jovens ávidos de vida e com fundados sonhos e ambições, porventura incautos, morreram arrastados por uma onda, deixando inconsoláveis e destroçadas as famílias e todos aqueles que os estimavam.
 
Há, porém, uma pergunta que deve ser feita: quantas vítimas já causaram as praxes académicas ao longo do tempo? Muitas, seguramente, porque para além das vítimas mortais, há que somar também um grande universo de vítimas que foram sujeitas a práticas vexatórias e humilhantes, atentatórias da sua dignidade e que em muitos casos arruinaram as suas carreira académicas e, pior do que isso, destruíram as suas vidas.
 
A história das "praxes académicas" ao longo dos séculos é um repositório de violência e vinganças e um péssimo exemplo para as Universidades, incapazes de moldar o carácter dos estudantes no respeito que é devido aos caloiros.  
 
Já há quase 3 séculos, em 1727, na sequência da morte de um aluno na Universidade de Coimbra, o então Rei de Portugal, D. João V, proibiu as "investidas" feitas pelos veteranos aos caloiros, decretando: "Hey por bem e mando que todo e qualquer estudante que por obra ou palavra ofender a outro com o pretexto de novato, ainda que seja levemente, lhe sejam riscados os cursos."

Se toda a gente reconhece a inutilidade e os malefícios das "praxes" e as vítimas que elas causam todos os anos na população estudantil caloira, a qual sofre gravíssimos danos materiais e morais, por vezes irreparáveis, porque razão os sucessivos governos ainda não decretaram a sua abolição?

E, por outro lado, a quem interessa tão desonrosa, indigna e obscena prática que decorre entre Setembro e Maio de cada época de ensino?

Sim, a quem interessa?  Eu direi que interessa a um conjunto de rufias ou rufiões, como lhe queiram chamar, sem carácter e sem pingo de vergonha, de baixíssimo estofo moral e de obscura mas muito fértil imaginação, que depois de serem praxados, esperaram ansiosamente pela sua vez, para descarregar nos caloiros toda a sua vingança e pôr em prática todas as imaginárias fantasias visionadas pela sua doentia e depravada mente.

Este tipo de gente académica, paradoxalmente, versada em boçalidade que exulta de satisfação como autora e intérprete da barbárie que se repete anualmente nas Universidades e Institutos portugueses, é também a estupidez oficializada por um regime "democrático" que ano após ano permite a  realização de práticas tão humilhantes, para gáudio de uns quantos depravados rufiões.

Quando é que o governo põe termo a esta pouca vergonha?


 
 
 
 

2 comentários:

Oswaldo Jorge do Carmo disse...

Exmo Senhor
Autor desta Publicação
Lisboa

Exmo Senhor,

V. Excelência, diz, a certa altura da sua publicação, que o Rei D. João V, mandou castigar alguns Alunos devido a estas, malévolas, Praxes.

Acontece que, naquele tempo, havia Homens com H Grande e, agora, infelizmente, não há.

De uma coisa eu tenho a certeza: Nesse tempo não havia Eleições!!!!!

São o raio das Eleições que estão a provocar, cada vez mais, estas e outras coisas.
Os Governantes não se querem impor porque têm medo de perder os tachos!!!

Falando, agora, em Praxes. Mas, agora, as Praxes fazem-se na Praia do Meco??!! Alguma coisa não está em sincronismo.

Outra coisa: Agora, cada Português, menos eu, tem, pelo menos, dois Telemóveis. Porque é que tantas Pessoas só tinham um Telemóvel?

Parece que alguma coisa não bate certo.

Mas não era suposto, em vez de prejudicarem, moral, física e mortalmente, as Pessoas, fazerem as tais Praxes nas Zonas onde estudam ou onde moram, com um Almoço ou Jantar para comemorar os tais, constantes, desacatos!!!!!

Porque é que o sobrevivente não se põe no lugar dos Familiares dos/as Colegas que pereceram?
Laranjeiro, 17-01-2014


Manuel Carmo Meirelles disse...

Exmo Senhor Oswaldo Jorge do Carmo

As suas questões são pertinentes e obrigam a uma séria reflexão.

De facto, os jovens, na sua grande maioria, são muito incautos e levianos nos actos e nas atitudes que tomam: um jovem adulto consciente e responsável, não abdicaria de levar o seu telemóvel, ainda que alguém, investido de "Dux" ou de outra coisa qualquer a isso obrigasse. Há ordens que são absurdas e "suicidas" que não devem ser cumpridas.

Também não acredito que um jovem consciente e responsável, na posse de todas as suas faculdades, escolhesse uma noite fria e invernosa, com condições meteorológicas anormais, para se deslocar à Praia do Meco cerca da 1 hora da manhâ.

Há, nesta tragédia, uma sucessão de episódios sem sentido que são incompreensíveis e que, pelos vistos, nem o "sobrevivente" está interessado em esclarecer.

Que outros jovens aprendam com esta dolorosa lição e pensem muito bem antes de cometer certas loucuras.

Obrigado pelo seu comentário. Forte abraço.